Cientistas descobrem novo tipo de coronavírus em morcegos

Batizado de NeoCoV, patógeno é próximo ao Mers-CoV, causador de uma epidemia que matou 852 pessoas em 2012

Um estudo ainda não revisado por pares e publicado por cientistas chineses no fim de janeiro tem movimentado discussões nas redes sociais nesta semana. No artigo, o grupo relata ter descoberto em morcegos um tipo de coronavírus semelhante ao Mers-CoV, que provocou uma epidemia de síndrome respiratória do Oriente Médio em 2012, em que houve 858 mortes relatadas, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Chamado pelos cientistas de NeoCoV, o patógeno é da mesma família do Sars-CoV (que causou uma epidemia em 2002-2003) e do Sars-CoV-2 (que causa a Covid-19).

O Mers-CoV não se espalhou com a mesma velocidade que o Sars-CoV-2, o que fez com que o número de casos não passasse de cerca de 2.500 em 27 países.

O próprio artigo não levanta nenhum tipo de alerta em relação à infecção de humanos.

“Nosso estudo aumenta o conhecimento sobre o uso complexo de receptores de coronavírus, destacando a importância da vigilância e pesquisa sobre esses vírus para que nos preparemos para possíveis surtos no futuro”, afirmam os autores

A principal suspeita é que o vírus causador da Covid-19 tenha saltado para humanos em um mercado de Wuhan onde eram vendidos diversos animais que podiam ser abatidos lá mesmo.

Não à toa, esses estabelecimentos costumam ser chamados de mercados molhados, por exigirem que o chão, com sangue e excrementos, seja constantemente lavado.

Uma suposta lista de preços do mercado de Wuhan começou a circular nas redes sociais após os primeiros casos de Covid-19.

Nela, aparecem valores de animais como filhotes de lobo, cobras, salamandras-gigantes, pavões, ratos, jacarés e raposas vivas.

A oferta incluía também o abate dos animais escolhidos ou a carne congelada, como a de camelo. Tudo isso “entregue à sua porta”, dizia o anúncio.

Moradores das proximidades do mercado confirmaram ao jornal South China Morning Post a comercialização de animais exóticos.

“Havia tartarugas, cobras, ratos, ouriços e faisões”, disse a vizinha do centro de compras. Um vendedor de frutas acrescentou que esse tipo de prática ocorria havia muito tempo.

Autoridades chinesas encontraram o coronavírus que infectou humanos em amostras coletadas no mercado após a interdição. Elas estavam na ala oeste, onde havia mais comércio de animais vivos.

No entanto, até hoje, o animal que deu origem à doença permanece uma incógnita.

Um documentário de 2020 do NatGeo mostrou pangolins doentes, com coriza, na China. Esse foi o animal apontado inicialmente como o possível hospedeiro intermediário do Sars-CoV-2.

Pesquisadores da Universidade Agrícola do Sul da China, em Guangzhou, identificaram um tipo de coronavírus 99% compatível geneticamente com o que estava infectando pessoas em Wuhan.

O pangolim é um animal em extinção, mas continua sendo caçado e comercializado na África e na Ásia.

Uma reportagem de 2019 do jornal britânico The Guardian mostrou que o pangolim é o mamífero selvagem mais traficado no mundo. Acredita-se que, em duas décadas, 1 milhão deles tenham sido mortos.

Além de o pangolim ir para a panela, na China, usam-se as suas escamas na medicina tradicional.

Após a eclosão da pandemia, o governo chinês estabeleceu leis que garantem a proteção do pangolim, inclusive com a sua remoção da lista de medicamentos. O tráfico de animais, todavia, continua a ser um problema. R7