Estudo acha 54 mil espécies de vírus em nosso cocô; 92% eram desconhecidas

Do VivaBem

26/06/2021 18h46

O Sars-CoV-2 (novo coronavírus) serviu de alerta para algo que muita gente não sabia: na natureza há inúmeros vírus ainda não conhecidos pelo ser humano. E muitos deles, inclusive, estão dentro do nosso corpo.

Cientistas do Joint Genome Institute e da Universidade Stanford, ambos nos EUA, analisaram o material genético presente em 11.810 amostras de fezes de pessoas de 24 países, disponíveis em um banco de dados público. O objetivo foi criar um “catálogo” dos vírus que compõem a nossa microbiota (conjunto de micro-organismos que habita o intestino). Após sequenciar o genoma do “nosso cocô”, os pesquisadores identificaram que há 54.118 espécies de vírus vivendo em nosso intestino, sendo que 92% eram desconhecidas (algo já esperado). A descoberta foi publicada esta semana no periódico Nature Microbiology.

Calma! Esses vírus não trazem grande risco à saúde nem vão exigir que você aumente os cuidados de higiene ao usar o vaso sanitário —mas siga sempre lavando bem as mãos. Segundo os cientistas, a grande maioria dos vírus em nosso intestino são bacteriófagos —ou seja, infectam apenas bactérias e não podem “atacar” células humanas. Por “matar bactérias”, esses vírus são importantes para o equilíbrio da flora intestinal, que é “povoada” por bactérias boas e ruins.

Após identificar os vírus presentes no intestino, os cientistas os ligaram a seus hospedeiros. Também sem surpresa, as espécies virais mais abundantes são as que “atacam” as espécies de bactérias altamente presentes em nossa microbiota, como as das “famílias” (filos) Firmicutes e Bacteroidetes.

Por que isso é importante?

Você pode estar pensando: mas por que cargas d’água (para não dizer por que m**da) é importante saber quais vírus há no meu cocô? A população de micro-organismos presentes em nosso intestino é cada vez mais associada à nossa saúde e bem-estar.

Esses micróbios atuam na imunidade, participam do processo de digestão, da absorção de nutrientes, da eliminação de toxinas e da sinalização neurológica. Quando estão em desequilíbrio (há mais micróbios ruins do que bons), são associados a quadros de diarreia, alterações no humor e, em longo prazo, problemas como o ganho de peso (que aumenta o risco de doenças como diabetespressão altainfarto). A disbiose (desequilíbrio das bactérias) intestinal também já foi identificada em pacientes que sofrem de depressãoansiedade e Alzheimer.

Conhecer quais vírus estão presentes no nosso intestino podem abrir portas para a terapia fágica, na qual vírus são usados para atacar tipos específicos de bactérias —para tratar infecções ou, no caso do intestino, diminuir o número de bactérias ruins e manter o equilíbrio da microbiota.

Obviamente, ainda há um longo caminho para isso, que exigirá muitas pesquisas. Enquanto não chegamos lá, uma boa forma de manter sua microbiota saudável é consumir alimentos probióticos —que contêm bactérias boas, como iogurte, kefir, kombucha— e prebioticos —ricos em fibras que servem de “comida” para as bactérias do intestino, como cebola, alho, aveia, banana. Além disso, é importante evitar o consumo de fast-food, açúcar e alimentos ultraprocessados. VOL.