Dólar tem maior queda desde 1º de julho com ajuste

O dólar fechou em firme baixa ante o real nesta quinta-feira, num dia de volatilidade razoavelmente menor e com o real de novo descolando de boa parte de seus pares, embora desta vez para o lado positivo.

Analistas citaram expectativas de fluxo cambial e ajuste técnico para explicar a valorização da taxa de câmbio nesta sessão, depois de na véspera o real ter figurado entre as divisas de pior desempenho num dia de dólar globalmente fraco.

O dólar à vista caiu 1,04%, a 5,3279 reais na venda—maior baixa desde 1º de julho (-2,24%). A cotação variou entre queda de 1,42%, a 5,3074 reais, e alta de 0,19%, a 5,3939 reais—esta logo no começo do pregão.

Na B3, o dólar futuro tinha baixa de 0,91%, a 5,3255 reais, às 17h11.

No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de rivais de países ricos subia 0,3%.

Na quarta-feira, o real foi destaque negativo em dia de queda global do dólar, com analistas comentando que a divisa brasileira mais uma vez foi alvo do trade “compra de bolsa/compra de dólar”, reflexo da demanda do mercado por proteção a posições no mercado de ações—que para muitos analistas está mais preparado para se beneficiar de uma retomada da economia.

O dólar subiu 0,66% na quarta, enquanto o Ibovespa avançou 1,34%, seguindo o bom humor externo. Nesta quinta, contudo, o principal índice do mercado de ações do Brasil devolveu o ganho da véspera ao cair 1,3%, segundo dados preliminares.

O gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital, chamou atenção para ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) “relevantes”, que, segundo ele, normalmente provocam queda da bolsa e fortalecimento da taxa de câmbio.

Na terça-feira, a Hidrovias do Brasil anunciou convocação de assembleia geral de acionistas para o dia 3 de agosto para decidir sobre a realização de uma oferta pública primária e/ou secundária de distribuição de ações.

Na segunda, a incorporadora You Inc definiu a faixa indicativa de preço de sua oferta pública primária e secundária de ações, em operação que pode levantar 1 bilhão de reais para a companhia, considerando o ponto médio da faixa.

Já o IPO da Ambipar, empresa que estou nesta semana na bolsa, foi precificado no teto da faixa indicativa e movimentou 1,08 bilhão de reais. E a oferta inicial de ações do Grupo de Moda Soma pode movimentar cerca de 2 bilhões de reais.

No geral, as ofertas de ações de empresas brasileiras cresceram 10% no primeiro semestre, para 9,9 bilhões de dólares, segundo dados da Refinitiv, surpreendendo muitos banqueiros de investimento, especialmente pelo contraste com a paralisia do mercado de fusões e aquisições.

Menezes comentou ainda sobre o fluxo cambial negativo da semana passada. “Parece que as grandes saídas para este mês já foram. Então o real pode melhorar”, disse.

Dados do Banco Central divulgados na quarta-feira revelaram acentuada piora nas saídas de recursos do Brasil nos últimos dias. O fluxo cambial ficou negativo em quase 2 bilhões de dólares apenas na semana passada, elevando o déficit de julho a 2,376 bilhões de dólares. No ano, a debandada é de quase 15 bilhões de dólares.

Nesse contexto, o real de forma recorrente exibe dias de intensa volatilidade. As saídas de capital afetam a liquidez do mercado, contribuindo para o intenso vaivém nas cotações, e isso ainda deixa alguns analistas cautelosos.

Veja gráfico de volatilidade do real (em linha destacada) e de outras moedas emergentes. Mesmo em baixa, a volatilidade da divisa brasileira segue acima da de seus pares:

“No final de tudo, carrego baixo, fiscal ruim e político sempre incerto juntos afastam o fluxo dos investidores pelo lado financeiro e tornam o dólar/real o hedge óbvio para qualquer coisa. Por isso esse comportamento tão ruim”, disse Leonardo Monoli, gestor no Opportunity Total.

Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, disse que o câmbio deverá continuar sendo influenciado pelas incertezas também sobre a retomada da economia brasileira e mundial.

“Essa recuperação não está se dando de forma constante, e isso gera mais cautela no mercado”, afirmou, lembrando o IBC-Br e dados do setor de serviços (ambos de maio e que vieram abaixo das expectativas) e números do varejo em maio, que mostraram crescimento recorde e acima das estimativas.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que a autoridade monetária segue investigando as causas por trás da volatilidade elevada do câmbio, mas ainda não tem uma boa explicação para o fenômeno. Em evento virtual promovido pelo banco Itaú, ele disse ter a sensação de que a volatilidade tende a diminuir.

Fonte: Reuters