Sepultura nazista no Amapá completa 85 anos em meio a mistério sobre planos de Hitler para a Amazônia

Cruz com suástica chama atenção em pequeno cemitério isolado no extremo sul do estado. Expedição de quase 2 anos coletou informações para implantação de colônia na região.

“Joseph Greiner morreu aqui de febre em 2 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã”. A inscrição no idioma alemão numa cruz fincada há 85 anos num pequeno cemitério próximo da cachoeira de Santo Antônio, no Rio Jari, no extremo Sul do Amapá, desperta até hoje a curiosidade de nativos e pesquisadores sobre um projeto audacioso de Adolf Hitler para implantar uma colônia na Amazônia.

G1 visitou o local em 2017 e mostrou a grandiosidade da cruz, que tem quase 3 metros e chama a atenção de quem vê de longe. O cemitério é de difícil acesso e fica a uma hora de barco pelo rio partindo da cidade mais próxima, Laranjal do Jari.

Cruz fica na margem direita do rio Jari próxima à cachoeira de Santo Antônio. Foto de 2017 — Foto: John Pacheco/G1

Cruz fica na margem direita do rio Jari próxima à cachoeira de Santo Antônio. Foto de 2017 — Foto: John Pacheco/G1

Segundo historiadores, Joseph Greiner era integrante da comitiva alemã que por quase dois anos atuou na Amazônia.

O objetivo da Alemanha de Hitler era implantar uma colônia na América do Sul, a exemplo da Guiana Inglesa, Suriname (Holanda) e Guiana Francesa. O plano não continuou, mas ao longo de 17 meses, a pesquisa levantou informações sobre fauna, flora e a cultura indígena. Registros em imagens feitos à época mostram a relação com a tribo Aparai.

“A França na época era arqui-inimiga da Alemanha, desde a Primeira Guerra Mundial. Tinha todo um rancor ainda pela França. Então possivelmente o interesse deles em chegar à Guiana era uma futura invasão no caso se eles entrassem em conflito”, contou, em 2017, Edivaldo Nunes, historiador da Universidade Federal do Amapá (Unifap).

Registros feitos à época mostram trabalho de pesquisadores alemães — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Registros feitos à época mostram trabalho de pesquisadores alemães — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Greiner morreu de uma febre não especificada durante a expedição. Ainda segundo estudos e um livro alemão sobre o assunto, ele era capataz da tropa e morava no Brasil antes de ser recrutado pelo governo alemão. O objetivo era que ele facilitasse a comunicação.

“Ele veio ainda adolescente pro Brasil, com 15 anos. Não se tem uma idade exata, mas ele tinha mais de 30 anos quando faleceu em janeiro de 1936. Ele era uma pessoa que não tinha família, não era casado, era solteiro, e não deixou filhos também”, completou Nunes.

O local onde ele foi enterrado fica próximo à cachoeira de Santo Antônio, que abriga a hidrelétrica de mesmo nome. Após o sepultamento no local, a área foi usada como cemitério por comunidades na região. A cruz resiste ao tempo e aos efeitos da natureza e permanece de pé.

Expedição Jari usou pequeno avião para sobrevoar floresta — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Expedição Jari usou pequeno avião para sobrevoar floresta — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Dificuldades na selva

A “Expedição Jari”, como foi chamada, trouxe grande aparato da Alemanha para a atuação no sul do Amapá. A equipe formada por três pesquisadores, além de Greiner, trouxe um avião para a região.

Após realizar alguns sobrevoos pela área, a aeronave de pequeno porte apresentou defeitos e não pode ser mais usada.

Com isso, as equipes necessitaram ainda mais da ajuda dos indígenas. A febre fatal para Joseph Greiner foi só uma das várias doenças que atingiram aos membros da expedição, além de outras enfermidades como malária e difteria. O forte calor e as sucessivas chuvas também eram problemas.

Imagem de documentário alemão mostra cruz sendo fincada por indígenas — Foto: Reprodução

Imagem de documentário alemão mostra cruz sendo fincada por indígenas — Foto: Reprodução

Com o possível plano de invasão em mente, a equipe retornou à Alemanha, mas o projeto Guiana nunca foi realizado, mesmo assim, a visitação levou crânios e informações de mais de 500 mamíferos, répteis, anfíbios e aves, além de registros em fotos e filmagens.

Um documentário alemão, feito na época, mostra em detalhes os percalços da viagem, inclusive com imagens da expedição e do contato com os índios. Confira:

Por John Pacheco, G1 AP — Macapá

02/01/2021 11h14