Medicamento desenvolvido em MS pode revolucionar tratamento do câncer

Remédio criado por pesquisadores da UFGD reduz os possíveis efeitos colaterais do tratamento.

Diferente dos atuais tratamentos disponíveis para o combate ao câncer, como a quimioterapia e a imunoterapia, o medicamento desenvolvido pode revolucionar o tratamento de câncer e está sendo desenvolvido pelo pesquisador e biólogo Caio Oliveira tem o objetivo de atingir as células cancerígenas em vez das saudáveis, reduzindo assim os efeitos colaterais do tratamento.  

Quem é Caio Oliveira

Integra a equipe da empresa Oncolytic, startup hospedada na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e que conta com parcerias de diversas universidades federais do País, como a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade Federal do ABC (UFABC).  

O Tratamento

De acordo com o pesquisador da Oncolytic, os tratamentos com quimioterapia possuem diversos efeitos colaterais em razão da falta de seletividade dos fármacos utilizados, que matam células de crescimento acelerado, sem diferenciar células saudáveis de células cancerígenas. 

Já o tratamento com imunoterápicos tem um custo elevado, por ser uma nova forma de medicação, o que impossibilita sua aplicação em massa.  

“A quimioterapia mata qualquer célula de crescimento acelerado. Um tratamento com imunoterápicos pode facilmente custar mais de R$ 300 mil. Nosso medicamento tem a vantagem de ser seletivo, matando apenas células cancerígenas, e mais barato, sendo assim mais acessível”, explica Caio Oliveira.

Onde vai atuar o medicamento

O pesquisador detalha que o medicamento desenvolvido vai atuar para alertar os locais onde há existência de um tumor no organismo. Esse alerta faz com que diversas células do sistema imune reconheçam o tumor e se concentrem em combater as células cancerígenas.  

“Alguns medicamentos são capazes de promover um tipo bastante particular de morte às células cancerígenas. Durante esse processo de morte, as células cancerígenas liberam nas regiões adjacentes ao tumor algumas moléculas capazes de alertar o sistema imunológico do paciente”.

O medicamento está em fase de desenvolvimento de versões a partir da molécula inicial, que são chamadas de análogos. 

Os análogos são testados em células cancerígenas cultivadas em laboratório, geralmente em animais. “A esta etapa damos o nome de etapa pré-clínica. Atualmente, já possuímos alguns análogos sendo testados em animais”, explica Oliveira.

Resultados

Caso os resultados dos testes em animais sejam positivos e viáveis, com eliminação completa dos tumores, será iniciada a etapa clínica, com estudos em humanos. Para os estudos clínicos em humanos é necessário, primeiramente, autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Desenvolver uma nova tecnologia aqui no estado de MS que pode salvar vidas em todo o mundo é o nosso objetivo. Esperamos fazer deste objetivo uma realidade”, frisa.  

Câncer de pele  

Segundo o especialista, o medicamento vai ser inicialmente usado para o melanoma, um tipo de câncer de pele que tem elevada taxa de mortalidade, principalmente em países com alta incidência da luz solar, como o Brasil. 

Caio Oliveira afirma que, futuramente, o medicamento poderá ser utilizado para o tratamento de tumores diversos. “Por ele ser administrado através de injeções intratumorais, tumores internos em pacientes poderiam ser acessados com equipamentos médicos. 

Já os tumores de pele, por exemplo, com uma simples injeção”, ressalta.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o melanoma tem origem nos melanócitos, células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele. 

O câncer de pele é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no País.  

O Inca explica que o índice de sobreviventes desse tipo de câncer teve melhora nos últimos anos, em função da identificação precoce do tumor e da introdução de novos medicamentos imunoterápicos.

Pesquisa

De acordo com Oliveira, a pesquisa foi iniciada durante seu pós-doutorado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 

O projeto era sobre moléculas denominadas “peptídeos antimicrobianos”, que são produzidas por toda classe de vida como imunizante. 

“Durante o desenvolvimento da minha pesquisa na UFMS, criamos algumas moléculas sintéticas a partir de peptídeos que já existiam na natureza. Foi a partir de então que a ideia de investigar a fundo a atividade dessas moléculas levou ao desenvolvimento da nossa startup, que tem o objetivo de criar medicamentos anticâncer”, relata.

Investimentos

A empresa ainda recebe investimentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do governo do Estado e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado (Fundect). CORREIO DO ESTADO.