Mar de Balneário Camboriú está próprio para banho? Entenda divergência nos relatórios

Com dois relatórios de balneabilidade feitos por instituições distintas, Balneário Camboriú, no Litoral Norte catarinense, tem dois laudos com alguns resultados diferentes sobre pontos iguais. A questão tem repercutido nas redes sociais entre moradores e turistas e causa confusão sobre qual análise o banhista deve seguir.

g1 entrou em contato com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.

Os resultados diferentes ocorrem mesmo quando a coleta da amostra da água é feita no mesmo dia. Essa situação ocorreu recentemente no último relatório, com as coletas feitas na segunda-feira (17).

Pelo laudo do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), que faz a análise semanal em mais de 100 praias do litoral do estado durante a temporada de verão, a Praia Central de Balneário Camboriú tem cinco pontos impróprios para banho e outros cinco próprios.

Resultado da coleta de segunda-feira (17) feita pelo IMA da balneabilidade da Praia Central — Foto: Reprodução/IMA

Resultado da coleta de segunda-feira (17) feita pelo IMA da balneabilidade da Praia Central — Foto: Reprodução/IMA

Já pelo relatório da Empresa Municipal de Água e Saneamento (Emasa) de Balneário Camboriú, a mesma praia tem todos os pontos próprios para banho.

Os locais analisados pelo IMA e pela Emasa são os mesmos. Pelo relatório do Instituto do Meio Ambiente, os pontos do Pontal Norte, em frente à Rua 2000, em frente à Rua 2500, em frente à Rua 1400 e em frente à Rua 51 estão impróprios para banho.https://2ac2e92c7f6c5cc3037af8dee985d50d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Diferenças

A coleta do IMA é feita uma vez por semana, sempre no mesmo dia da semana e em horário próximo, faça sol ou chuva, conforme o instituto. No caso da Praia Central de Balneário Camboriú, as amostras são retiradas às segundas-feiras. O instituto também divulga, de forma antecipada, o cronograma desse trabalho.

Na Emasa, são feitas três coletas por semana de 27 de dezembro até março, às segundas, quartas e sextas, informou a empresa. Porém, pode haver mudança no dia da retirada da amostra caso haja chuva no dia da coleta ou no anterior. No restante do ano, o trabalho é feito uma vez por semana.

Pontos de coleta da Emasa — Foto: Reprodução/Emasa

Pontos de coleta da Emasa — Foto: Reprodução/Emasa

Nesta semana, o IMA fez a coleta na segunda e a Emasa, na segunda, quarta (19) e nesta sexta. Porém, os resultados de quarta e sexta ainda não haviam saído até a publicação desta notícia.

Quando um local é próprio ou impróprio?

As duas instituições seguem a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) sobre balneabilidade e determinam se um local está próprio ou impróprio para banho dependendo da quantidade da bactéria Escherichia coli, encontrado no intestino humano e de outros animais, em 100 mililitros de água.

Para um local ser considerado próprio, em 80% ou mais de um conjunto de amostras coletadas nas últimas cinco semanas nesse ponto, deve haver, no máximo, 800 bactérias da espécies por 100 mililitros.

Um local está impróprio se em mais de 20% de um conjunto de amostras coletadas nas últimas cinco semanas o ponto tiver mais de 800 dessas bactérias por mililitros, ou quando na coleta mais recente o resultado for superior a 2000 Escherichia coli por 100 mililitros de água.

O que dizem as instituições

O Instituto do Meio Ambiente informou em nota que “Quando um ponto possui duas impropriedades, somente voltará a condição de propriedade após quatro análises positivas consecutivas [do IMA]. Evidentemente isto será mais rápido em um monitoramento mais continuado. E é por este motivo que há divergências entre os relatórios de balneabilidade do IMA e os relatórios de monitoramento da Emasa”.

O diretor-geral da Empresa Municipal de Água e Saneamento, Douglas Beber, reiterou a informação do instituto. “Se ficar na coleta do IMA, leva quatro semanas para voltar para próprio. Na Emasa, melhorando, o impróprio passará para próprio num tempo menor. E o contrário também, porque fizemos mais coletas com esse mesmo espaço de tempo”, explicou.

A Emasa aponta no próprio boletim que faz a análise da balneabilidade por causa de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) feito com o Ministério Público de Santa Catarina em 2018.

“Foi uma questão que houve no passado em relação a uma estação de tratamento de esgoto. A Emasa compensaria esse problema ambiental por meio da aferição da balneabilidade”, explicou o promotor de Justiça Isaac Sabbá Guimarães.

Segundo ele, as análises da empresa municipal são recebidas pelo MP. Pelo TAC, a Emasa precisaria realizar uma coleta semanalmente. Para o promotor, o fato de a entidade fazer isso mais de uma vez na semana não prejudica o termo assinado. “Pelo contrário, é uma boa prestação de serviço”. Guimarães afirmou que considera que o TAC vem sendo cumprido pela Emasa.

Banhistas no mar da Praia Central, em Balneário Camboriú, em 27 de dezembro — Foto: Luiz Souza/NSC TV

Banhistas no mar da Praia Central, em Balneário Camboriú, em 27 de dezembro — Foto: Luiz Souza/NSC TV

O diretor-geral Douglas Beber explicou por que a coleta é feita mais de uma vez por semana na alta temporada. “Nós tomamos essa atitude porque, principalmente no verão, Balneário Camboriú recebe milhares de turistas. Para que a gente possa entregar, não só para a nossa comunidade, mas para os turistas, o resultado mais aproximado da balneabilidade da praia”, afirmou.

Ele também explicou por que não é feita a coleta no dia ou 24 horas após chuva. “Quando há uma chuva forte, acaba fazendo lavação na via pública. Xixi de cachorro, fezes de animais, sujeira da rua, tudo é arrastado e levado para o mar, por isso que não se realiza teste num período de 24 horas após chuva”, disse.

O IMA orienta os banhistas que evitem o banho de mar até 24 horas após a ocorrência de fortes chuvas, principalmente próximo à desembocadura de rios e tubulações.

Detalhes do monitoramento

O professor de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta chamou a atenção para as regras do monitoramento das praias.

Professor Paulo Horta fala sobre normas relacionadas ao monitoramento da balneabilidade

Professor Paulo Horta fala sobre normas relacionadas ao monitoramento da balneabilidade

“A balneabilidade é algo já estudado, avaliado há muito tempo. Então existe legislação específica e essa legislação determina que nós tenhamos a precaução como um pressuposto fundamental para garantir a segurança de todos os usuários de uma praia”, disse.

A professora doutora em biologia molecular e biotecnologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) Vanessa Gonçalves lembrou que muitos fatores influenciam no resultado da balneabilidade. “Intensidade da chuva, leva de detritos para dentro do mar, temperatura do ar, da água, altas temperaturas, que aumentam crescimento bacteriano”, afirmou.

Professora Vanessa Gonçalves — Foto: Reprodução

Professora Vanessa Gonçalves — Foto: Reprodução

Segundo ela, a maior periodicidade é bem-vinda. “Quanto maior o número de amostras, maior confiabilidade dos dados”, declarou. Ela também disse que a chuva altera o resultado da balneabilidade. “Não é recomendável a coleta [em dias de chuva ou 24 horas depois]. Como janeiro é um período de muita chuva, é difícil evitar esses dias. Tanto IMA quanto Emasa já têm cronograma, é difícil mudar”, afirmou.

Ela também comentou os laudos diferentes entre os dois órgãos. “É muito estranho ter resultados tão discrepantes no mesmo dia e no mesmo local. É difícil entender o que pode ser. É preciso ter acesso ao protocolo no momento da coleta, na manipulação, a técnica laboratorial”, afirmou.

Para o professor Paulo Horta, o banhista deve levar em consideração o relatório mais restritivo. “Nesse caso objetivo, quando nós temos, usando o mesmo descritor, Escherichia coli ou coliformes fecais, o mesmo descritor portanto, mas com resultados diferentes, é importante que as instituições e a população olhem para o resultado mais restritivo. Porque além daquelas bactérias que estão ali, nós podemos ter outros organismos, bactérias e vírus, potencialmente patogênicos naquelas águas e isso pode colocar em risco a saúde das pessoas”. G1