Fabricantes de carros estão parando no mundo inteiro, e seu celular é um dos culpados

A indústria automotiva do mundo inteiro está enfrentando um novo problema que pode ocasionar prejuízos como os provocados pela pandemia de Covid-19. Entre os culpados está a gestão de estoques das empresas, reflexos da paralisação global de 2020 e até seu videogame (e seu smartphone).

O “vilão” da vez é o semicondutor, categoria de materiais essenciais para a produção de chips e outros itens eletrônicos. Eles estão dentro dos celulares, videogames, televisões e, naturalmente, automóveis — que recebem cada vez mais eletrônica rumo à evolução da tecnologia semiautônoma e melhora dos sistemas multimídia. Sem falar, claro, dos modelos elétricos, que possuem elevado nível de controle eletrônico.

O problema começou com a interrupção mundial na produção de carros provocada pelo avanço da Covid-19 ao longo de 2020. Ao mesmo tempo o consumo de eletrônicos cresceu, impulsionado por consumidores que agora passam a maior parte do tempo em casa, seja trabalhando ou descansando.

Os carros modernos contam com dezenas de módulos eletrônicos, que demandam diversos semicondutores — Foto: Auto Esporte

Os carros modernos contam com dezenas de módulos eletrônicos, que demandam diversos semicondutores — Foto: Auto Esporte

A retomada da indústria automotiva levou a um descompasso da cadeia automotiva, que demanda tempo para voltar ao fluxo de produção e abastecimento — fornecedores não são capazes de voltar à capacidade original rapidamente. E isso se agravou com os produtores de semicondutores, que já estavam sob pressão por conta da alta demanda do segmento de eletroeletrônicos.https://2b9e7cd42c08004f4af93edb76df0c8d.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

O impacto já é sentido em diferentes países. A Audi irá colocar mais de 10.000 funcionários em layoff por conta da paralisação forçada de suas linhas de montagem, e o Grupo Volkswagen estima que pelo menos 100 mil carros deixarão de ser produzidos só nos primeiros quatro meses de 2021 por conta do desabastecimento.

A centralização na produção dos componentes adiciona uma dificuldade extra à equação. Segundo a Nações Unidas, mais de 70% da produção de semicondutores ocorre na Ásia, sendo 25% apenas da China. Outro problema é que as fabricantes não negociam diretamente com os produtores: isso é responsabilidade das fornecedoras de componentes eletrônicos automotivos, como Bosch Continental.

Executivos que acompanham de perto a crise estão reportando que outra dificuldade é a forma com que as montadoras lidam com sua matéria-prima. Historicamente as fabricantes têm trabalhado com estoques cada vez menores, para reduzir custos. Isso limita o volume negociado com os fornecedores automotivos, que, por si só, já produzem em quantidades menores: só em 2019 foram vendidos mais de 1,37 bilhão de smartphones, segundo a consultoria Canalys, contra pouco mais de 75 milhões de veículos, de acordo com a Jato Dynamics.

Impacto nacional
A Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) já havia alertado no final de 2020 sobre o risco de “paralisação imediata” da produção no Brasil por falta de insumos, como aço, borrachas e plásticos. A entidade afirmou à Autoesporte que o tema vem sendo debatido entre os associados para poder dimensionar o alcance do problema.

O descompasso entre oferta e demanda ocorre em diversas fabricantes. Modelos como Jeep Renegade e Volkswagen Nivus têm fila de espera de 60 dias, e vendedores consultados por Autoesporte alertam até para o ágio (quando o preço cobrado é maior que o sugerido pela fabricante) em algumas concessionárias. “Não estou mais conseguindo fazer estoque, e o volume de carros que conseguimos reservar junto à fabricante chega a ser 65% menor do que era no passado”, afirmou um lojista.

A falta de nacionalização de elementos eletrônicos do carro deve intensificar o problema: atualmente o Brasil não produz sequer câmbio automático para veículos de passeio. Outros equipamentos, como controle de estabilidade e assistentes de condução semiautônoma, também são majoritariamente importados ou apenas montados no Brasil, usando componentes — incluindo semicondutores — de outros países. AUTOESPORTE