As idas e vindas de Temer no velório da Chape provam que ele é o homem bomba de seu governo

(*) Kiko Nogueira
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Houve um momento, lá pelo final do ano passado até meados deste, em que Temer foi vendido na imprensa como grande articulador político.

Compensava a falta de carisma e a de pescoço com uma capacidade de conversar e negociar com o Congresso que sua antecessora, a bolivariana descompensada segundo essa narrativa, não tinha. O impeachment ia revelar as artes de uma velha raposa.
Na verdade, você e eu sabíamos que Temer era apenas o operador de uma quadrilha que trabalhava nas sombras, incumbido de fazer um serviço sujo. Nada além disso.
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No momento em que foi para as luzes, a sujeira apareceu. Com ela, emergiu o fato inegável de que Temer é uma catástrofe ambulante e o maior responsável pelas crises em seu governo, pequenas ou grandes. O que ele articula são problemas.
O vexame do caso Chapecoense é o exemplo mais recente. O medo das vaias, a insegurança e a falta de noção generalizada fizeram com que ele achasse razoável montar um posto avançado no aeroporto para receber, como um marajá, os familiares das vítimas.
Não iria ao velório no estádio, a Arena Condá.
Foi humilhado publicamente pelo pai do zagueiro Filipe Machado, Osmar, que cobrou-lhe “dignidade”, “vergonha na cara” e falou o óbvio: Michel estava invertendo a ordem das coisas. Por que sairia do lado do filho?
O porta voz Alexandre Parola ligou para Osmar para tentar “esclarecer” que esse protocolo era ideia dos governos estadual e municipal. Filipe, segundo Parola, vai receber a Cruz e Medalha do Mérito Desportivo, conforme publicado em edição extra do Diário Oficial da União. E daí?
Não adiantou. O estrago já estava feito e o repúdio foi avassalador.
Osmar Machado e a imensa maioria dos chapecoenses, absolutamente consternados com o acidente, não pretendiam vaiar ninguém. Nem Temer.
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Uma mensagem de WhatsApp circulou entre os moradores da cidade com o seguinte teor: “Não pensem no mau momento da política brasileira (…) Não vamos para a Arena criticar o Temer… ao contrário, gente, vamos lá nos despedir dos guerreiros”.
Na manhã do sábado, diante da avalanche de críticas e de mais um desgaste gigantesco em sua imagem, Michel acabou confirmando que iria à Arena Condá. Numa coletiva, ainda teve a desfaçatez de falar que já havia tomado essa decisão, mas não podia revela-la por razões de segurança.
O cálculo de Temer mostra sua pequenez invencível. Numa hora dessas, que tipo de pulha colocaria o receio de ser apupado à frente do dever de prestar uma homenagem?
Era uma decisão óbvia, menos para ele. O mundo de Temer é o do pequeno expediente, do acerto vagabundo, de gente como Geddel, onde é normal um presidente se meter num negócio de um ministro corrupto, intercedendo a favor dele por um imóvel na Bahia.
Como no episódio do funeral da Chapecoense, a bomba estourou no colo dele porque ele mesmo, Temer, a colocou ali. O mau articulador e o conspirador barato, de caráter falho, convivem no mesmo corpo.
Não fosse ele quem é, Temer extrairia uma lição — política, inclusive — da generosidade do povo de Chapecó. Mas Michel é Michel. Vai errar mais uma vez, e outra, e outra, até cair e ser varrido definitivamente para o lixo da história.
(*) Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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