Dólar fecha em queda após novo recorde na véspera

08/05/2020 16:33

Dólar fecha em queda após novo recorde na véspera

O dólar fechou em queda acentuada nesta sexta-feira (8), após bater novo recorde na véspera, com os investidores mais inclinados a fazer apostas arriscadas após alívio nas tensões entre Estados Unidos e China. Mas ainda acumulou alta na semana, marcada pela aproximação do patamar de 6 reais, depois de renovadas tensões políticas e de corte mais intenso nos juros.

A moeda norte-americana encerrou o dia em queda de 1,76%, cotada a R$ 5,7428. Na mínima durante o dia, chegou a R$ 5,7218. Na semana e do mês, o dólar acumula alta de 5,57%. No ano, o avanço chegou a 43,22%.

Cenário externo

Nesta sexta-feira, os principais representantes comerciais das duas maiores economias do mundo discutiram a Fase 1 de seu acordo comercial, e o país asiático disse que concorda em melhorar a atmosfera para sua implementação, enquanto os EUA disseram que os dois lados esperam que as obrigações sejam cumpridas.

A notícia acalmou o sentimento dos mercados, principalmente depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, e outras altas autoridades norte-americanas culparam a China pela morte de centenas de milhares de pessoas devido ao surto de coronavírus, e ameaçaram ações punitivas, incluindo possíveis tarifas e o afastamento das cadeias de suprimentos da China.

“O clima amanheceu otimista, com sinalização boa dos EUA e da China”, disse à Reuters Jefferson Laatus, sócio fundador do grupo Laatus. “Os dois países voltaram a se falar, e isso é realmente muito positivo.” Enquanto isso, os investidores também reagiram a dados impressionantes sobre o emprego nos Estados Unidos. A economia norte-americana perdeu 20,5 milhões de postos de trabalho em abril, sua queda mais acentuada desde a Grande Depressão, enquanto a taxa de desemprego no país ficou em 14,7%.

Apesar de evidenciarem o enorme impacto econômico das medidas de contenção do coronavírus, os dados ainda vieram melhores do que as expectativas dos mercados. Economistas consultados pela Reuters previam fechamento de 22 milhões de vagas fora do setor agrícola e taxa de desemprego de 16%.

“Agora, o payroll deu uma animada. Estamos num cenário em que ‘comemoramos’ dados ruins: só de virem um pouco acima (do esperado), já acalmam as expectativas sobre a economia dos Estados Unidos”, acrescentou Laatus. Em nota, Jefferson Rugik, da Correparti Corretora, disse que “não descartamos durante a presente sessão uma mudança de tendência em função do atual desconforto no nosso mercado local de câmbio, ditado pela combinação entre juros cada vez mais baixos, economia em colapso e persistentes incertezas em nossa seara política”.

O que explica a alta recente

A alta do dólar na semana ocorre diante de um intenso desconforto no mercado local de câmbio ditado pela combinação entre juros cada vez mais baixos, economia em colapso e persistentes incertezas do lado político. “O real vai continuar se depreciando em função de crises políticas que vamos testemunhar mais à frente e em tempos de crise de saúde e econômica”, disse à Reuters Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora.

“Acho que a grande questão é: qual o objetivo de um dólar a 6 reais? Qual o posicionamento da equipe econômica em relação ao pacote de ajuda a Estados e municípios? Esses fatores respondidos em conjunto pela equipe econômica poderiam dar alguma clareza e amenizar essa pressão no mercado de câmbio”, acrescentou.

Antes dos mais recentes ruídos políticos, o câmbio já vinha se depreciando, sob pressão da queda constante dos diferenciais de juros entre o Brasil e o mundo. O Copom não apenas cortou a Selic além da magnitude de 0,50 ponto esperada por ampla parte do mercado como indicou possibilidade de outra flexibilização monetária nesse tamanho na próxima reunião do colegiado, nos dias 16 e 17 de junho. O juro básico caiu para 3%, nova mínima histórica.

Juros ainda mais baixos reduzem o diferencial de taxas entre o Brasil e o mundo, o que prejudica a competitividade do país em termos de atração de capital ávido por retornos, num momento em que mercados emergentes de forma geral sofrem fortes saídas de recursos por causa da crise do Covid-19.

De acordo com último boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro passou a projetar retração de 3,76% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020. Já a previsão dos analistas para a taxa de câmbio no fim de 2020 subiu de R$ 4,80 para R$ 5 por dólar.

Fonte: Fiems