Dólar fecha em alta de mais de 4% com risco fiscal e inflação em alta no Brasil

Moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 4,10%, cotada a R$ 5,3942.

O dólar fechou em forte alta nesta quinta-feira (10), com os investidores reagindo às incertezas em relação ao controle das contas públicas no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Também pesou contra o real neste pregão a divulgação da inflação de outubro, que subiu acima das expectativas do mercado.

A moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 4,10%, cotada a R$ 5,3942 – a maior cotação de fechamento desde 29 de setembro, quando encerrou a R$ 5,3950. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,4129. Veja mais cotações.

Com o resultado, a moeda acumula alta de 6,63% na semana, e de 4,43% no mês. No ano, ainda tem queda, de 3,24% frente ao real.

No começo da manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que representa a inflação oficial do país. Em outubro, o indicador teve avanço de 0,59%, após três meses consecutivos de deflação. O mercado já esperava um alta na inflação brasileira, mas o avanço nos preços foi superior às expectativas de especialistas, que projetavam uma alta média de 0,50%.

A maior influência no índice geral veio do grupo Alimentação e bebidas, com crescimento de 0,72% e impacto de 0,16 ponto percentual no índice geral. Na sequência das maiores influências estão os grupos de Saúde e cuidados pessoais (1,16% e 0,15 p.p.) e Transportes (0,58% e 0,12 p.p.). Já o grupo Vestuário teve a alta mais intensa, de 1,22%.

A nova alta dos preços no Brasil ocorre em um momento em que investidores estão cautelosos com os gastos do novo governo a partir de 2023.

“O mercado está preocupado com a dinâmica dos gastos públicos. Tem que ser uma dinâmica sustentável”, afirmou Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, em entrevista a Globonews.

Para cumprir com as principais promessas de campanha de Lula – com destaque para a continuidade do Auxílio Brasil (que voltará a ser chamado de Bolsa Família) de R$ 600, um auxílio extra de R$ 150 para crianças pequenas e reajuste do salário mínimo -, o governo de transição planeja criar a PEC da Transição, que liberaria cerca de R$ 175 bilhões no Orçamento de 2023 além do teto de gastos.

Alessandra pontua, também, que ainda não há definição sobre quem estará na equipe econômica de Lula a partir do próximo ano, o que adiciona incertezas e volatilidade ao mercado. Investidores esperam a nomeação de uma pessoa mais alinhada ao centro do que a esquerda para as pastas da economia.

No cenário externo, o destaque do dia também fica por conta da inflação, desta vez nos Estados UnidosO Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro subiu 0,4%, segundo o Departamento do Trabalho do país. O resultado veio um pouco abaixo das expectativas do mercado, de alta de 0,6%.

Uma inflação muito elevada na maior economia do mundo pesa contra a valorização do real frente ao dólar. Quando os preços disparam, a estratégia dos bancos centrais é elevar as taxas de juros. Nos EUA, os juros já subiram até um patamar entre 3,75% e 4,00% ao ano e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que novas altas devem ocorrer nos próximos meses.

Juros mais altos impactam positivamente a rentabilidade dos títulos públicos de um país, que passam a entregar retornos maiores e mais atrativos. Como os títulos americanos são considerados os mais seguros do mundo, se a rentabilidade deles sobem há uma tendência global de migração dos investidores para esses investimentos, em detrimento dos ativos de risco. Nesse sentido, o dólar ganha força ante a moeda nacional.

G1