Datafolha mostra piora nas expectativa de inflação, desemprego e poder de compra

A pesquisa Datafolha foi realizada com 2.556 eleitores em 181 cidades de todo o país, na terça (22) e quarta-feira (23). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.

No caso da inflação, houve um forte aumento no número de brasileiros que esperam alta. Nesta pesquisa, 74% dos entrevistados declaram acreditar que a carestia vai aumentar nos próximos meses. Em dezembro, esse contingente era 46%.

O cenário atual aproxima-se do identificado no repique da pandemia, em dezembro de 2020 e março de 2021, quando respectivamente 74% e 77% dos entrevistados estimavam que a inflação iria aumentar.

Naquele momento, os preços de alimentos começaram a refletir de maneira mais contundente a alta na cotação de matérias-primas, como soja e milho, e também era forte o aumento de custos de insumos e produtos industriais por causa da ruptura das cadeias de fornecimento em nível global.

O IPCA-15 de março, prévia mensal do índice oficial de inflação, divulgado na sexta-feira (25), corrobora a perspectiva de que os próximos meses tendem a ser de repique inflacionário.PUBLICIDADE

O indicador veio muito acima das projeções. Ficou em 0,95%, o maior patamar desde março de 2015. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam avanço de 0,85%.

O resultado foi puxado por aumento no preço de alimentos, um efeito da seca que prejudicou a última safra. Mas também começou a refletir parte da forte alta no preço dos combustíveis, provocada pelo aumento no barril de petróleo na esteira dos efeitos da guerra na Ucrânia.

Também voltou a ser maioria o contingente que prevê perda no poder de compra.

Em dezembro, 36% acreditavam que o poder de compra iria ser preservado, enquanto 35% esperavam melhora. Um contingente menor, 25%, projetava que haveria redução no poder de compra.

O Datafolha de março identifica uma reversão. A parcela que espera melhora do poder de compra caiu para 27%, e 29% acreditam que vai ficar se manter como está. Em contrapartida, 40% projetam perda do poder de compra. O patamar é similar ao visto em agosto e setembro do ano passado, quando indicadores apontaram que o rendimento dos brasileiros estava num nível historicamente deprimido.

No trimestre até outubro de 2021, a renda média real recebida pelos trabalhadores ocupados foi estimada em R$ 2.449 por mês -o valor mais baixo de todos os trimestres da série iniciada em 2012 na Pnad Continua do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Também chama a atenção a súbita piora na percepção sobre o futuro do emprego.

Em dezembro, o contingente que previa alta na desocupação chegou a empatar com a parcela que projetava melhora na oferta de empregos, 35% cada um. No Datafolha de março, porém, 50% projetam piora no mercado de trabalho e 20% acreditam que pode haver melhora. Trata-se de outra reversão de tendência.

A taxa de desemprego encostou em 15% no trimestre encerrado em março de 2021, sob o efeito do repique da pandemia. Nesse mesmo março, o pessimismo com a economia bateu recorde na série do Datafolha, com dois em cada três brasileiros prevendo piora no cenário. Houve um pico, 79%, prevendo piora na oferta de vagas.

Na sequência, divulgações do IBGE mostram uma progressiva redução do desemprego. Com a vacinação e a volta progressiva das atividades presenciais, a taxa de desemprego recuou para 11,1% no quarto trimestre de 2021. No trimestre encerrado em janeiro deste ano, por sua vez, ficou em 11,2%.

Como há defasagem na divulgação dos dados oficiais, será preciso esperar as próximas pesquisas sobre o mercado de trabalho para identificar se houve reversão nas contratações que explique o súbito pessimismo.