Bovespa tem alta no último pregão do ano, mas termina o ano em queda de 11,93%

Nesta quinta-feira, o principal índice da bolsa subiu 0,69%, mas consolidou primeira queda anual desde 2015.

O principal índice de ações da bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou em alta nesta quinta-feira (30), último pregão do ano, buscando recuperação pontual após semana e ano de perdas.

O Ibovespa subiu 0,69%, a 104.822 pontos. Veja mais cotações.

No pregão de quarta-feira (29), a bolsa fechou queda de 0,65%, aos 104.864 pontos. Com o resultado de hoje, acumulou alta de 2,85% em dezembro e encerrou cinco meses seguidos de queda. No ano, porém, o tombo foi de 11,93%.

O que explica o ano no vermelho

A bolsa de valores brasileira deverá amargar em 2021 a primeira queda anual em 6 anos. A última vez que a bolsa tinha fechado um ano no vermelho foi na recessão de 2015, quando o Ibovespa acumulou perda de 13,3%. Em 2020, mesmo em meio à pandemia, conseguiu fechar o ano com alta de 2,92%.

O desempenho do Ibovespa caminhou na contramão das principais bolsas internacionais. Nos EUA, por exemplo, as bolsas acumulam no ano ganhos de mais de 20%. Na véspera, os índices S&P 500 e Dow Jones renovaram recordes históricos.

Apesar do tombo em 2021, a primeira metade do ano foi de ganhos e otimismo na B3. Em junho, o Ibovespa chegou a acumular um avanço de quase 10% na parcial do ano e chegou a superar os 130 mil pontos.

No dia 6 de junho, a bolsa atingiu a máxima histórica de fechamento de 130.776 pontos, mas a partir de julho entrou em trajetória contínua de queda, amargando uma sequência de 5 meses de perdas. A pior marca foi registrada no dia 1 de dezembro, quando fechou aos 100.774 pontos.

Ibovespa no vermelho em 2021 — Foto: g1 Economia

A inversão de rota do Ibovespa ocorreu na esteira da piora das expectativas para a economia brasileira, em meio à disparada da inflação às alturas, que resultou numa acentuada elevação da taxa básica de juros (Selic), que começou 2021 em 2% ao ano e caminha agora para o patamar de dois dígitos.

A mudança de humor dos mercados refletiu também o aumento das incertezas fiscais e políticas após ameaças golpistas pelo presidente Jair Bolsonaro em setembro e depois que o governo decidiu driblar o teto de gastos por meio da proposta de emenda à Constituição (PEC) dos precatórios como estratégia para financiar o pagamento Auxílio Brasil e abrir espaço no Orçamento no ano eleitoral de 2022.

“Existia uma confiança muito grande na equipe econômica por parte do mercado, que caiu no final do ano. Esperava-se que a reforma tributária passasse ainda esse ano, mas foi jogada um pouco de lado”, resume Lucas Prado Marques, sócio da 3A, destacando que a flexibilização do arcabouço fiscal, através da aprovação da PEC dos Precatórios, “tirou muita credibilidade” da política econômica, afetando por consequência a confiança e otimismo dos investidores.

Reportagem do g1 publicada no começo do mês mostrou que a bolsa brasileira teve o 2º pior desempenho no mundo em 2021 na parcial até novembro, na contramão da tendência global e atrás somente da bolsa da Venezuela, segundo ranking da Austin Rating com 78 países.

45 IPOs no ano

O ano, porém, foi positivo em termos de listagem de novas empresas na B3. Ao todo, foram 45 IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), contra 28 no ano passado. Foi maior número desde 2007, quando foram registradas 64 ofertas iniciais de ações.

IPOs na Bolsa brasileria — Foto: Economia g1

IPOs na Bolsa brasileria — Foto: Economia g1

As ofertas públicas de ações realizadas em 2021 movimentaram um volume de R$ 65,2 bilhões. As maiores foram as da Raízen, CSN Mineração, Caixa Seguridade e Modalmais.

Apesar do novo “boom” de estreias na bolsa, a mudança de cenário provocou também o adiamento ou suspensão de dezenas de outros IPOs. Desde setembro, nenhum IPO foi realizado na bolsa. O último foi o da Vittia, no final de agosto.

Dividendos recordes

A boa notícia do ano para os investidores veio na forma de distribuição dos lucros. O valor total de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) distribuídos pelas empresas brasileiras listadas na B3 foi recorde em 2021.

Segundo levantamento da provedora de informações financeiras Economativa, o valor total pago pelas companhias entre janeiro e setembro aos acionistas somou R$ 214,5 bilhões, superando o montante pago durante todo o ano de 2020 (R$ 126,5 bilhões). As maiores distribuições foram para os acionistas da Vale (R$ 73,1 bilhões) e da Petrobras (R$ 31,5 bilhões).

Bolsa ganha mais de 734 mil novos investidores

Mesmo com o cenário mais adverso, a bolsa continuou atraindo novos clientes em 2021. O número de investidores pessoas físicas chegou a 3,45 milhões em novembro, o que representa uma alta de 27% no ano. Em números absolutos, a bolsa recebeu um ingresso de 734 mil investidores no ano.

O ano também foi positivo em termos de ingresso de capital externo. Os investidores estrangeiros aportaram até o dia 28 um volume líquido de mais de R$ 68 bilhões. A grande retirada de recursos se deu por parte dos investidores institucionais, com um saque líquido de mais de R$ 77 bilhões na parcial do ano, segundo dados da B3.

Os investidores estrangeiros representaram atualmente 50,2% do total de investidores da bolsa, os institucionais, 25,7%, e as pessoas físicas, 18,7%.

Veja momento em que ‘Touro de Ouro’ é retirado da B3, no Centro de SP, após multa

O ano da B3 também foi marcado pela polêmica envolvendo a estátua de um touro dourado instalada em frente ao prédio da Bolsa, no Centro de São Paulo. O “Touro de Ouro” violou Lei Cidade Limpa e não tinha autorização da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) para ser instalado, como revelou o g1.

A estátua foi alvo de protestos durante o período em que ficou no local e foi removida por ordem da Prefeitura de São Paulo.https://5fd9fc1273de16ddbac65b57dc003884.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Futuro da bolsa

Os analistas destacam que a bolsa brasileira continua com diversos papéis “baratos” e oferecendo boas oportunidades de longo prazo, mas ressaltam que a piora das perspectivas econômicas e as incertezas fiscais e políticas por conta das eleições presidenciais tendem a continuar gerando volatilidade no mercado.

Pesquisa mensal Latam Fund Manager Survey, realizada pelo Bank of America (BofA), aponta que metade dos dos agentes financeiros acredita que o Ibovespa vai encerrar 2022 entre os 120 mil e 130 mil pontos. Já a XP projeta um “valor justo” de 123 mil pontos para o índice ao final de 2022, estabelecendo o piso de 98 mil pontos para um cenário “pessimista” e teto de 150 mil pontos “caso o cenário melhore consideravelmente”.

Entre os fatores que podem influenciar o desempenho do Ibovespa no ano e devem dominar as atenções dos investidores estão as preocupações com a inflação e com a retirada dos estímulos monetários em todo o mundo e também o avanço de variantes do coronavírus, que tem levado diversos países a retomarem restrições para frear uma nova onda da Covid-19.

No Brasil, problemas domésticos como a elevada dívida pública, queda da renda do trabalhador, perda de dinamismo da economia e a disputa eleitoral tendem a pautar o humor dos mercados. Vale lembrar que, no início do ano, os economistas previam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país de 2,5% para 2022, mas, agora espera-se um crescimento de menos de 0,5%, com diversos analistas prevendo até mesmo estagnação ou recessão da economia.

“Há uma perspectiva econômica de crescimento de PIB menor, pois com aumento do juros as empresas vão financiar mais caro ou vão preferir, às vezes, não financiar”, afirma o sócio da 3A.

A perspectiva de novas elevações nos juros tende a continuar pesando sobre os investimentos de renda variável como ações, uma vez que uma Selic mais alta aumenta a rentabilidade de investimentos de renda fixa. A Selic está atualmente em 9,25% e a previsão do mercado é que ela subirá para acima de 11% até o fim do 1º trimestre de 2022.

Nova composição do Ibovespa

A partir do dia 3 de janeiro, passarão a fazer parte da carteira do Ibovespa os papéis Positivo Tec ON (POSI3), CSN Mineração ON (CMIN3) e 3R Petroleum ON (RRRP3), totalizando 93 ativos de 90 empresas. Segundo a B3, os 5 ativos que terão o maior peso na composição do índice serão Vale ON (14,783%), Petrobras PN (6,582%), Itaú Unibanco PN (5,142%), Bradesco PN (4,556%) e Petrobras ON (4,205).

Por Darlan Alvarenga, g1