BC vende US$ 25 bilhões de reservas para segurar dólar em meio à crise do coronavírus

Começo do ano registrou maior saída de dólares do país desde 1999. Swaps cambiais geraram perda de outros R$ 50 bilhões; venda pode ser ampliada, diz presidente do banco.

Por Alexandro Martello, G1 —

O Banco Central vendeu US$ 25,399 bilhões em recursos das reservas internacionais brasileiras neste ano, aponta balanço divulgado nesta quarta-feira (8). O mecanismo é uma forma de tentar conter a disparada do dólar, que tem sido maior do que em outros países emergentes.

O valor inclui operações liquidadas até a última sexta-feira (3) e já se aproxima dos US$ 36,88 bilhões vendidos em todo o ano de 2019, quando o BC voltou a operar com venda direta das reservas.

Além disso, a instituição também efetuou os chamados “leilões de linha”, nos quais o BC vende recursos das reservas internacionais com compromisso de recompra. O acumulado até 3 de abril chegou a US$ 15,7 bilhões.

Nos leilões de linha não há impacto de redução das reservas internacionais, pois os recursos retornam posteriormente para as mãos do Banco Central. Mesmo que temporariamente, entretanto, há um efeito de aumento de dólares no mercado, contribuindo para diminuir as pressões de alta da moeda.

Maior saída de dólares

Também nesta quarta, o Banco Central divulgou que a saída de dólares da economia brasileira superou a entrada da moeda em US$ 11,35 bilhões de janeiro a março.

A saída de recursos do país também gera pressão de alta sobre a taxa de câmbio. O acumulado parece pequeno frente aos US$ 44,76 bilhões que deixaram o Brasil em 2019 mas, segundo o BC, é a maior cifra para o período desde 1999 – ano em que o governo abandonou o teto fixo para o dólar.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, observou nesta quarta-feira que os investidores estão retirando recursos de países emergentes por conta das incertezas causadas pela pandemia do novo coronavírus.

Neste ano, disse ele, a saída de dólares dos países emergentes beira a marca dos US$ 100 bilhões.

“No bloco da América Latina, caso típico, a gente uma saída dez vezes maior do que tivemos em 2008. É rápido, um ‘flight to quality’ [fuga para países com economias mais sólidas, como os Estados Unidos], de ativos de maior risco para menor risco”, afirmou ele.