Álcool, cravo e óleo de citronela: os repelentes caseiros funcionam contra a dengue?

Sem comprovação de eficácia, produtos não são aprovados pela Anvisa e podem causar alergias em contato com a pele.

Por Júlia Carvalho, g1

As receitas caseiras têm entre seus ingredientes itens disponíveis em casa. São dicas que acumulam milhares de visualizações nas redes sociais neste período de explosão dos casos de dengue. Algumas combinam álcool 70%, cravo-da-índia e óleo corporal em uma mistura que, supostamente, deveria espantar o mosquito Aedes Aegypti quando passada na pele.

Outras dicas sugerem produtos à base de citronela ou de andiroba como repelentes.

⚠️ Mas especialistas ouvidos pelo g1 e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertam: repelentes caseiros não são indicados para afastar o mosquito transmissor da dengue. A agência recomenda o uso de formulações industrializadas que contenham Icaridina 20-25%DEET 10-15% ou IR3535 (saiba mais sobre os produtos abaixo), substâncias que não devem ser manipuladas em casa.

Produtos sem eficácia comprovada

O primeiro problema quando se trata de soluções caseiras é a falta de comprovação de eficácia, que vem acompanhada de falta de padronização nas supostas receitas, modo de uso e duração da proteção alegada.

Vânia Rodrigues Leite, professora do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas da Unifesp, explica que toda formulação caseira, seja uma tentativa de medicamento ou de cosmético, nunca é segura por si só.

“Não apenas por conta dos ingredientes, mas muito por conta do modo de fazer. Você não tem a assepsia correta, a dosagem correta, nem a forma certa de preparo”, analisa a professora da Unifesp.

O gerente de projetos e estudos da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), Vagner Miguel, também alerta que inseticidas considerados naturais, à base andiroba e óleo de cravo, por exemplo não possuem uma efetividade comprovada contra o mosquito da dengue.

O farmacêutico ainda pontua que nenhum desses produtos é aprovado pela Anvisa e, por isso, devem ser evitados. “É importante lembrar que, uma vez que não há essa demonstração de eficácia, essas receitas podem não proteger adequadamente”, comenta.

A agência também alerta que, além das alternativas naturais, “não existem produtos de uso oral, como comprimidos e vitaminas, com indicação aprovada para repelir o mosquito”.

Outra questão sinalizada pelos especialistas é que, mais do que serem ineficientes contra o mosquito, essas soluções podem causar outros problemas.

Vânia lembra que, por não passarem por nenhum tipo de teste, produtos caseiros podem provocar reações inesperadas no corpo, como alergias.

“O produto industrializado tem um padrão para ser produzido, com todos os registros e testes de eficácia e segurança necessário. É muito diferente de fazer uma mistura caseira”, compara.

O que funciona para espantar o mosquito?

As medidas mais efetivas para espantar os mosquitos se dividem entre as barreiras físicas, como telas, e as barreiras químicas, como repelentes e inseticidas. (veja na arte abaixo)

Medidas de proteção contra o mosquito da dengue. — Foto: Arte g1/Ana Moscatelli

Medidas de proteção contra o mosquito da dengue. — Foto: Arte g1/Ana Moscatelli

Vagner Miguel ainda lembra que nem todos os repelentes são efetivos contra o Aedes aegypt.

“Para serem eficazes contra o mosquito da dengue, os repelentes devem ter as substância ativas aprovados pela Anvisa”, afirma.

👉 De acordo com a Anvisa, o repelente precisa conter algumas substâncias específicas para combater o Aedes aegypt:

  • Icaridina 20-25% – duração de dez horas
  • DEET 10-15% – duração de seis a oito horas
  • IR3535 – duração de até quatro horas

Por sua efetividade durante uma maior quantidade de horas, a Icaridina 20-25% é a substância considerada mais efetiva para proteção contra o Aedes aegypt.