A carne que você consome pode ser boa para o meio ambiente

Na coluna de hoje vamos discutir fatos e dados comprovados, não fake news, sobre a pecuária e o meio ambiente. Se você gosta de comer carne, já adianto, você poderá continuar a comer com a consciência tranquila, pois existem sistemas que são verdadeiros sumidouros de carbono, provando que gado bem manejado é parte da solução do problema de mudança climática.

Talvez você já tenha ouvido alguém falar que deixou de comer carne porque os gases expelidos pelo boi estão acabando com nosso planeta. Também ouvimos falar que o gado pode ser comparado aos veículos na liberação de gases de efeito estufa (GEE) e mudança climática. Proponho explorarmos juntos as razões pelas quais isto não é correto.

Não só os bois, mas todos os outros animais ruminantes, liberam metano majoritariamente através da eructação, o arroto, processo digestivo de eliminação de gases do estômago dos animais. O metano produzido desta forma é parte de um ciclo natural onde ele é quebrado em carbono e água. Este metano é retirado da atmosfera pela fotossíntese feita pelo capim, que alimenta o boi. Parte deste carbono é usada para o crescimento do capim e outra parte é transportada pelas raízes, fornecendo energia aos microrganismos do solo, que vão ajudar as plantas a obter nutrientes. Estes microrganismos são responsáveis por criar complexas e estáveis formas de carbono. O solo preservado continuará armazenando carbono por centenas de milhares de anos, fechando desta maneira o ciclo.

É um processo totalmente diferente da queima de combustíveis fósseis, derivados do petróleo e carvão mineral, realizada nos países industrializados, onde o carbono, que estava aprisionado há milhões de anos no subsolo, é jogado na atmosfera pela queima destes combustíveis, não havendo um ciclo natural para reciclagem deste carbono.

É um absurdo que seja repetido como verdade por países industrializados, que queimaram combustíveis fósseis por séculos – e ainda queimam –, que um dos grandes responsáveis pela mudança climática seja a pecuária. A opinião pública não pode ser manipulada e distraída das reais emissões e intenções.

No caso dos animais, o gado converte pasto e outras plantas, que têm pouco ou nenhum nutriente para os humanos, em proteína de alta qualidade e valor nutricional para as pessoas, enquanto aumenta a qualidade do nosso solo.

Em pesquisa recente, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) calculou que a pecuária a pasto é capaz de gerar crédito de carbono com média lotação no pasto. De acordo com a pesquisadora Patrícia Oliveira, “um sistema de média lotação, de 3,3 unidades animais (UA) por hectare, em que se recuperou a pastagem degradada, foi capaz de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa de bovinos e ainda gerar créditos de carbono correspondentes ao produzido por seis árvores de eucalipto”. Uma unidade animal corresponde a 450 kg de peso vivo.

Ainda segundo o estudo, o balanço de carbono é uma ferramenta que permite apontar o potencial de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa, além de prospectar sistemas de produção passíveis de receber créditos de carbono. De acordo com Patrícia, tem sido comum na pecuária registrar as emissões, mas o balanço entre o que a atividade emite e o que ela sequestra de carbono quase nunca é considerado. “Com a ferramenta do balanço, esse aporte de carbono é contabilizado e pode mostrar o diferencial da pecuária realizada a pasto, que além de manter o animal em seu habitat sem contenções, ainda traz o benefício do sequestro de carbono realizado pelo crescimento das pastagens.” FORBES.