5G ‘caviar’: o que esperar da nova geração da internet móvel em 2022

Em leilão das faixas da tecnologia, Anatel definiu que primeiras redes deverão estar disponíveis a partir do final de julho.

Por Alessandro Feitosa Jr, g1

O 5G, a nova geração de redes móveis, deu um importante passo em 2021: a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou o leilão para que as operadoras possam explorar a tecnologia comercialmente.

Para 2022, a expectativa é de vermos os primeiros avanços dessa novidade, mas ainda deve demorar até que os brasileiros possam experimentar diferenças no dia a dia.

Isso porque as empresas arremataram faixas, que funcionam como avenidas no ar para a transmissão de dados, mas ainda precisam instalar a infraestrutura de antenas e fibras ópticas para levar a conexão para as pessoas. É só depois disso que as primeiras aplicações devem começar a aparecer.

5G ‘caviar’

De acordo com as regras definidas pela Anatel, as primeiras redes 5G “puro” do Brasil devem começar a funcionar até 31 de julho de 2022 em todas as capitais e no Distrito Federal.

Isso não quer dizer que todos os bairros dessas cidades terão cobertura 5G – a exigência é que se instale pelo menos uma antena a cada 100 mil habitantes, o que deve levar a conexão para as regiões que cada operadora considera mais importante para o seu negócio.

José Otero, vice-presidente da 5G Americas para América Latina e Caribe, aponta que as regiões com maior tráfego de internet devem ser as primeiras a ter a tecnologia – aquelas com mais empresas e negócios, por exemplo.

Além disso, é preciso ter um aparelho compatível para usar a nova rede e, portanto, localidades com maior poder aquisitivo devem estar entre as prioridades das operadoras. Essa cobertura mais restrita foi apelidada como “5G caviar” por alguns especialistas.

Segundo Christian Perrone, coordenador de direito e tecnologia do ITS-Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio), algumas capitais devem ter mais dificuldade de oferecer a conexão do que outras – seja por terem infraestruturas menos preparadas e até mesmo por entraves burocráticos para a instalação das antenas.

O 5G exige muito mais antenas do que as gerações anteriores da internet móvel – em compensação, esses equipamentos são muito menores. Ainda assim, cada cidade possui uma legislação específica para a instalação dos equipamentos.

Adoção lenta, inovações velozes

Os especialistas ouvidos pelo g1 alternam entre opiniões otimistas e pessimistas sobre a velocidade do impacto do 5G no dia a dia.

José Otero, da 5G Americas, apontou que alguns obstáculos podem desacelerar a adoção da tecnologia – a escassez mundial de chips, que tem feito com que fabricantes priorizem celulares mais caros é um desses entraves.

“A curto prazo, não é uma tecnologia que deve ser adotada rapidamente pelo mercado geral”, disse Otero. Ele apontou ainda que muitas aplicações da tecnologia devem aparecer rapidamente em setores específicos, como indústrias, com a chamada internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).

Guia do 5G: tire suas dúvidas

O dólar alto é outro componente que pode atrasar a ampla adoção do 5G pelos brasileiros. A valorização da moeda faz com que qualquer smartphone chegue com custo elevado, mesmo modelos com especificações mais modestas, por exemplo.

Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, entidade que representa as operadoras, disse ao g1 em novembro que a cobertura da rede pode acontecer até mesmo antes das metas previstas pela Anatel, conforme a demanda dos consumidores e a competição do mercado que, segundo ele, é um setor “muito competitivo”.

É um quebra-cabeças difícil de montar, mas o desenvolvimento de aplicações pode ser até mais rápido se comparado com o 4G, segundo Perrone, do ITS-Rio.

“Há uma pressão do ecossistema de tecnologia que deve nos trazer uma um maior grau de velocidade – estamos mais voltados pra ter serviços digitais, startups no Brasil impulsionando nesse sentido”, comentou.

“Mas, claro, esse impacto não vai ser sentido pela população brasileira como um todo”, completou.

A tendência é que o 5G chegue aos poucos, primeiro nas grandes cidades, e vá se expandindo ao longo dos anos, assim como aconteceu com o 3G e o 4G.

“Se a gente imaginar 5G como um bebê, ele começaria a engatinhar em 2022. Em 2023 e 2024 ele está mais crescido, mas ainda é uma criança. Em 2025 já está mais adolescente e em 2026 já deve estar mais maduro, como uma tecnologia mais disponível”, comparou Perrone.

Infográfico mostra aplicações do 5G.  — Foto: Wagner Magalhães/Arte G1

Infográfico mostra aplicações do 5G. — Foto: Wagner Magalhães/Arte G1