Terra da ‘Máfia dos Cigarreiros’, MS é estado que mais consome cigarro ilegal no Brasil

Mesmo com várias operações deflagradas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), PF (Polícia Federal) e PM (Polícia Militar), a terra da Máfia dos Cigarros movimentou em território brasileiro mais de 56 milhões de maços vindos do Paraguai. Mato Grosso do Sul é o Estado brasileiro que mais consome o contrabando, que representou uma movimentação de mais de R$ 710 milhões somente em 2020.

Os dados são do ​Ibope Inteligência/Ipec. ​O Estado lidera o comércio ilegal do produto no país — 37 pontos percentuais acima da média nacional. Mesmo com os efeitos da pandemia, provocando uma alta inédita no dólar, ultrapassando R$ 5, o mercado ilegal não apresentou o mesmo recuo verificado no Brasil. Enquanto a participação do cigarro ilícito caiu de 57% para 49% na média nacional entre 2019 e 2020, no Mato Grosso do Sul a queda foi de apenas um ponto percentual. 

A pesquisa, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), aponta como um dos fatores do alto índice de participação do crime no mercado de cigarros os baixos preços praticados pelos contrabandistas e fabricantes nacionais que sonegam impostos. Com a alta do dólar no período, o preço médio do cigarro ilícito no Mato Grosso do Sul subiu de R$ 2,82, em 2019, para R$ 3,91, em 2020 — abaixo do preço mínimo definido pela legislação brasileira (R$ 5). 

Fonte: Estimativa da Indústria 2015 – 2017 | IPEC (antigo Ibope Inteligência)  – Pack Swap 2018-2020 

Operações

Só em 2020, sete pessoas foram presas, entre elas cinco policiais rodoviários federais nas operações Managers e Cem Por Cento, quando foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão e prisão, além da apreensão de 15 veículos, R$ 9.800 em espécie e 24 celulares.

Com mais de 1 quilômetro de fronteira seca, Mato Grosso do Sul acaba virando rota para os contrabandistas, que não só abastecem o Estado como também outros estados do país. 

As operações Managers e Cem Por Cento foram desdobramentos das operações Nepsis, que foi deflagrada, em 2017, em duas fases. Uma em agosto de 2019, e a Trunk deflagrada no dia 31 de julho também de 2019, quando foram detectados que policiais haviam sido cooptados para integrar a quadrilha e facilitar a passagem para os contrabandistas.

De prejuízo, os contrabandistas tiveram na Operação Nepsis R$ 1 bilhão e 500 milhões, com as cargas apreendidas. Na Operação Teça, foram 30 presos, sendo que na Operação Trunk foram 26 pessoas presas e a apreensão de mais de R$ 70 milhões.

Durante as investigações das operações Managers e Cem Por Cento foi descoberto um caderno onde os integrantes das quadrilhas tinham as escalas de serviço dos policiais rodoviários federais, que eram classificados nas anotações como ‘bons’, os que deixavam passar as cargas, e ‘ruins’ que seriam os que não deixavam passar os contrabandos.

Cinco policiais rodoviários federais foram presos suspeitos de facilitarem a entrada de contrabando de cigarros no Estado. Um dos policiais presos havia sido solto recentemente — não foram divulgados detalhes e nem o ano em que foi detido. Um dos policiais teria ingressado na instituição em 1994, outro em 1996, e um em 1999, o outro policial preso estaria na instituição desde 2011.

Contrabando 

A alta no dólar fez crescer cada vez mais o contrabando de cigarros, que do lado paraguaio é taxado em 18%, muito abaixo da taxa que pode chegar a 70% no Brasil. Só em 2020, foram mais de R$ 1 bilhão sonegados com o contrabando de cigarros. 

Dados da Receita Federal mostram que 88% dos produtos apreendidos no Mato Grosso do Sul são cigarros — houve um aumento de 17% nas apreensões em 2020. Foram mais de 56,8 milhões de maços de cigarros apreendidos, o equivalente a mais de R$ 284 milhões. Do total, 66% dos produtos do crime foram comprados no comércio legal — como bares, mercearias, mercadinhos, bancas de jornal e padarias.  MIDIAMAX