Por que pode ser bom que o envelhecimento seja visto como uma doença

Investidor afirma que verbas para pesquisa seriam mais volumosas e beneficiariam inovações na área

Assisti a diversas palestras do seminário on-line Longevity Leaders Virtual 2021, uma imersão no universo da longevidade que aconteceu entre 4 e 7 de maio. Um dos convidados mais aguardados, o investidor e escritor Sergey Young discorreu sobre indicadores da revolução da longevidade, mas sua fala mais provocadora foi sugerir que o envelhecimento deveria ser tratado com uma doença: esta seria a forma de ter acesso a linhas de financiamento robustas não somente das indústrias farmacêuticas, mas também de fundos de investimento – como o que ele próprio criou. “Não há um modelo econômico que dê suporte à pesquisa, que proteja a propriedade intelectual nessa área. A consequência é termos um volume enorme de produtos que se restringem a cosméticos e suplementos. Atualmente, o gasto com pesquisa sobre o envelhecimento fica entre 2 e 4 bilhões de dólares, enquanto o volume total da indústria farmacêutica chega a 172 bilhões”, provocou.

Sobre os indicadores de estarmos no caminho da longevidade com qualidade, ele começou, de forma otimista, pelo meio ambiente. “Há movimentos importantes para proteger o meio ambiente, que é fundamental para um envelhecimento seguro. A China está aumentando sua área verde numa taxa de 10% a cada década; carros autônomos salvarão milhões de vidas; alimentos feitos a partir de plantas, substituindo a carne, serão mais saudáveis”, listou.

Outro indicador apontado por Young foi a expansão da medicina preventiva e personalizada: “a inteligência artificial tem o potencial de revolucionar diagnósticos, tratamentos e a descoberta de novas drogas. O médico, sozinho, não consegue ser tão eficiente”. Citou ainda o peso de gigantes da tecnologia, como Google, Apple e Amazon, estarem investindo no campo da ciência, saúde e bem-estar, com capital suficiente para uma virada no jogo. Voltando ao cerne de sua argumentação, lembrou que a indústria farmacêutica continua despejando milhões para descobrir medicamentos que vençam o câncer: “em 2010, as drogas oncológicas representavam 18% das pesquisas; em 2020, 40%. O envelhecimento também merece um lugar nesse cenário”.

Por último, traçou um panorama com três níveis de inovação em longevidade. O primeiro horizonte, como chamou, é o que já existe e está sendo aperfeiçoado para ganhar escala: roupas e equipamentos dotados de sensores (wearable devices), cuidados de saúde digitais, como softwares e aplicativos. “O segundo horizonte fica numa janela entre os próximos 5 e 20 anos, e vai representar um ganho de até décadas de vida, através de terapia gênica, tratamentos com células tronco e nanorrobótica, tendo a inteligência artificial como pano de fundo. O terceiro horizonte seria para daqui a 25 até 50 anos, quando poderemos entrar numa era de reversão do envelhecimento e reposição de partes do corpo”. Ficção científica a um passo de se tornar realidade. G1