Comércio reage e economia começa a “sair do coma” em MS

Segmento amplia as vendas, demite menos e melhora perspectivas para os próximos meses
23/07/2020 09:30 –


Os piores impactos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) na economia estadual foram no período entre abril e maio. 

Levantamento do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS) e Sebrae aponta que o comércio já registra recuperação nos meses de junho e julho. 

Outro setor que impulsiona a economia é o agronegócio, que registra bons números desde o início da pandemia. 

Economistas acreditam que Mato Grosso do Sul, assim como o País, começa a “sair do coma” e já projeta recuperação para os próximos meses.  

A terceira edição da pesquisa “Impactos do Coronavírus no Comércio de Bens e Serviços de MS” aponta que a queda no faturamento ainda persiste, mas ela é considerada menor do que nos meses anteriores. 

Segundo a economista do IPF-MS, Daniela Dias, as demissões também continuaram perdendo força e, para os próximos três meses, a tendência deve ser de queda. 

“Tivemos uma redução da velocidade com que as demissões estão acontecendo e a melhora em termos de faturamento de alguns empresários. Muitas pessoas voltaram a consumir, voltaram a frequentar as lojas físicas e se adaptar às novas tendências direcionadas ao e-commerce. O País está saindo de um coma induzido e a gente em Mato Grosso do Sul também está saindo, dada a essa reação de alguma forma da economia”, ponderou.  

Entre maio e junho, 24% dos empresários do Estado demitiram funcionários, um porcentual 4% menor na comparação com a pesquisa anterior. 

A perspectiva é de que nos próximos três meses haja uma amenização ainda maior e o porcentual chegue a 8%.

Para o secretário-adjunto da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Ricardo Senna, o momento é de cautela. 

“Alguns indicadores começam a melhorar, de fato, mas prefiro a cautela. A gente ainda não sabe como vai evoluir a pandemia, os números só se agravam, os leitos estão com a capacidade máxima. Mas claro que a gente espera que a economia possa reagir, alguns setores estão indo bem como a exportação, mas nem todo mundo consegue acompanhar o mesmo ritmo de recuperação. Eu prefiro a cautela, esperar a sinalização da política nacional, parece que teremos novos estímulos em termos de crédito, é possível que essa nova política possa impactar o setor de comércio e serviços e a gente acelerar a recuperação”, analisou. 

Consumidores voltam a comprar em lojas físicas, além de ampliar consumo on-line – Foto: Álvaro Rezende / Correio do Estado

Mecanismos

Os principais mecanismos de retomada apontados pelo estudo foram a cautela (38%), higienização (17%), crédito (16%), flexibilização (5%) e delivery (4%).

 “Percebemos a cautela e a higienização, para garantir que os estabelecimentos sejam seguros para serem frequentados. Além disso, a busca por crédito cresceu bastante e muitas empresas tiveram crescimento fazendo vendas on-line”, destaca a analista do Sebrae-MS, Vanessa Schmidt.

A pesquisa mostra ainda que a maioria dos empresários (67%) realizou alterações nos canais de comercialização: passaram a vender pelas redes sociais (34%), utilizam ou intensificaram o uso de plataformas on-line de comercialização (22%) e investiram no atendimento em domicílio ou a distância (11%). 

E, destas mudanças, a maioria (80%) disse que serão mantidas no pós-crise, com um crescimento de 10 pontos porcentuais em relação ao estudo anterior.

Considerando os segmentos do comércio que tiveram ampliação mais significativa nas vendas, os eletrônicos e as peças para automóveis se destacaram. 

“Os segmentos que tiveram uma melhora mais significativa, até com uma possibilidade de aumento na comercialização se voltaram principalmente à venda de produtos eróticos, peças e acessórios automotores, eletrônicos e do segmento voltado à educação. Os que ainda estão sofrendo são moda e turismo e eventos, mas todos de certa forma tiveram uma amenização”, complementa a economista Daniela Dias.

Exportações

Entre os setores menos impactados com a pandemia, o agronegócio registrou dados positivos. 

No primeiro semestre de 2020, Mato Grosso do Sul superou em US$ 269,098 milhões o total exportado no mesmo período do ano passado, ou R$ 1,4 bilhão quando convertido para o real considerando o dólar a R$ 5,35. De janeiro a junho de 2019, foram US$ 2,690 bilhões em negócios; neste ano, no mesmo período, foram US$ 2,959 bilhões negociados.

A ampliação das receitas, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, foi puxada pelo envio de soja, celulose e carnes bovina e de aves.

Conforme os dados da Carta de Conjuntura do Setor Externo do mês de junho, o saldo da balança comercial de Mato Grosso do Sul no primeiro semestre de 2020 apresentou crescimento de 28,27% em relação ao mesmo período de 2019. 

A diferença entre importações e exportações soma US$ 1,993 bilhão no semestre, com US$ 2,959 bilhões exportados e US$ 965,501 milhões importados.

Nacional

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (22) que a economia brasileira passou por um “coma induzido” por causa da crise. Segundo ele, “o fundo do poço” foi no fim de abril e começo de maio, mas indicadores recentes mostram recuperação. 

Campos Neto repetiu a avaliação de que a estimativa do BC para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, com queda de 6,4%, é pessimista.  

De acordo com o presidente do BC, a perspectiva é melhor. Para o Ministério da Economia, o tombo neste ano será de 4,7% e, para o mercado financeiro, de 5,95%. 

“É como se fosse um coma induzido, desligou tudo, não tínhamos tido nenhuma experiência na nossa história. Acho que agimos com bastante agilidade”, disse ele ao Valor Econômico Correio do Estado.