Método prevê aumentar controle das vacinas contra Aftosa

Análise realizada em laboratório pode detectar presença de substância que causa abcessos nos bovinos

Em julho do ano passado, quando os Estados Unidos embargaram a carne bovina in natura brasileira, o manejo da aplicação da vacina contra Febre Aftosa voltou a ser discutido. Além de questões sanitárias a saponina, substância adjuvante até então presente em todas as vacinas, cuja função é causar uma pequena inflamação para estimular a produção de anticorpos, poderia gerar edemas ou abcessos no local da aplicação. Diante da preocupação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), firmou acordo com da cadeia produtiva de carne e indústria, em agosto de 2017, para que a saponina fosse retirada da composição das vacinas e que as doses fossem reduzidas de 5 para 2 ml.

Em busca de contribuir com a fiscalização e identificar a presença da saponina nas vacinas, o farmacêutico e Técnico de Fiscalização Agropecuária, do Laboratório de Controle de Vacinas Contra Febre Aftosa (CVA), do Lanagro-RS, Diego Fontana de Andrade, desenvolveu um método que atesta a presença do adjuvante. Chamado de “Determinação da saponina em vacinas contra Febre Aftosa por cromatografia líquida, acoplada a espectrometria de massas de tempo de voo”, o trabalho envolve análises laboratoriais empregando um equipamento de alta tecnologia e que permite exatidão nos resultados.

Inicialmente foi feita uma pesquisa em artigos científicos e legislações da União Europeia, para determinar qual seria o extrato de saponina levado em questão. O trabalho contou com a participação do coordenador do Lanagro-RS, Fabiano Barreto e da Responsável Técnica Substituta do Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas e Medicamentos (RPM), Louise Jank, além dos colegas do CVA. Andrade ressalta que o trabalho é de grande relevância para o setor agropecuário: “Estamos ofertando a análise laboratorial de mais um parâmetro de segurança e qualidade para a fiscalização de vacinas contra a febre aftosa, com precisão de resultados”, completa.

O CVA é o único laboratório oficial do MAPA a realizar os testes de controle de vacinas contra Febre Aftosa no país. Tem capacidade para analisar até 20 partidas mensais e conta com uma fazenda de testes em Sarandi, no Noroeste do Rio Grande do Sul, abrigando cerca de mil bois entre os em teste e esperando para serem testados. Os Responsáveis Técnicos do laboratório, e os médicos veterinários Marcus Sfoggia e Álvaro Bavaresco, reforçam que a medida partiu de uma iniciativa própria e não tem poder de alterar a legislação atual mas pode gerar bons resultados e impactar economicamente no setor. “O novo método laboratorial pode, futuramente, substituir os testes de tolerância pós vacinais em coletas feitas a campo. As análises podem reduzir custos para a cadeia, uma vez que, seria possível determinar a presença de saponina já em laboratório, antes da aplicação”, explicam.

O relatório de validação foi finalizado em maio de 2018 e, agora, deverá ser feito um comunicado oferecendo essa rotina para a Coordenação de Produtos Veterinários (CPV). Ainda neste mês a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) deve declarar oficialmente o Brasil como um país livre da febre aftosa com vacinação. A meta do governo é fortalecer os serviços veterinários para que os produtores parem de vacinar o rebanho após maio de 2021 e o País inteiro seja reconhecido pela OIE como livre de aftosa sem vacinação até maio de 2023.

O que é a saponina?

Trata-se de um adjuvante (substância ativa que ministrado com outro ou adicionado a fórmula reforça ação) extraído de vegetais superiores. A substância espuma abundantemente na água por seus efeitos detergentes e emulsificantes sendo utilizada nas indústrias farmacêutica (em expectorantes e laxantes), de cosméticos (cremes e gel) e de bebidas (estabilizante de espumas). Nas plantas, funcionam na defesa contra insetos e patógenos e também na manutenção do crescimento. 

Fonte: Agrolink