TEMPOS DE GRISE:Rio de Janeiro: hotel de mais, hóspede de menos

Após empolgação com a Copa e com a Olimpíada, rede hoteleira do Rio de Janeiro vive crise de hóspedes
Por Betina Neves-EXAME
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Piscina do Emiliano: a primeira filial do hotel paulista vai abrir em Copacabana no dia 23 de dezembro
Nos idos últimos meses de 2009, o Rio de Janeiro comemorava a escolha como cidade-sede das Olimpíadas, o Brasil vivia pujança econômica, o petróleo do pré-sal era um passaporte para o futuro. Não parecia, portanto, ser um grande problema cumprir o compromisso assumido com o Comitê Olímpico Internacional de oferecer 50.000 leitos – a rede hoteleira da cidade, estagnada havia pelo menos 20 anos, somava 31.000.
Foi aí que teve início o boom de construções que viria a dobrar essa oferta, em parte apoiado no programa de financiamento ProCopa do BNDES, que teve 2 bilhões de reais de orçamento, e nos incentivos fiscais oferecidos pela prefeitura do Rio (como a isenção de todos os débitos do IPTU acumulados até a compra dos imóveis). Desde 2010 até o fim deste ano serão 60 novos hotéis, totalizando 58.000 quartos. O setor de luxo ganhou oito opções cinco-estrelas. A região da Barra da Tijuca foi a mais beneficiada: redes internacionais de peso abriram unidades ali, como Hilton, Hyatt, Accor e a Marriot. Até o futuro presidente americano Donald Trump abriu às pressas um hotel no bairro, que não ficou pronto a tempo das Olimpíadas.
O problema é que a economia naufragou, os Jogos Olímpicos passaram e a violência, um grande mal carioca, voltou com força total. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Hoteleira no Rio de Janeiro (Abih-RJ), os hotéis da Zona Sul operam com 50% de ocupação e, na Barra da Tijuca, com 25%. “Essa baixa é comum em cidades pós-Olimpíadas, mas está muito agravada pela retração dramática da economia e pela crise no petróleo”, diz Alfredo Lopes, presidente da associação.
Encolheram tanto o turismo de lazer, do brasileiro sem dinheiro que deixou de viajar, quanto o corporativo – a feira Rio Oil & Gas, realizada em outubro, por exemplo, teve 500 participantes a menos do que no ano passado. Na avaliação de Diogo Canteras, sócio da consultoria Hotel Invest, também houve um movimento exagerado em direção à Barra. “Essa região depende muito de eventos e convenções, e a demanda do turismo de negócios encolheu 20% de 2013 para cá”, diz.
O Hilton Barra, primeiro hotel da rede no Rio, abriu as portas em dezembro de 2015 próximo do Parque Olímpico. São 298 quartos, um restaurante e uma área para eventos com 1.300 metros quadrados. O projeto sofisticado tem móveis de design, coleção de arte com pinturas de Burle Marx e Carlos Vergara e uma piscina de borda infinita no terraço. A diretora-geral do hotel, Laura Castagnini, diz que sente a baixa no mercado mas já tem certa fidelização do público – o Hilton ocupa a primeira posição na lista de 280 hotéis do Rio no site Trip Advisor. “Hotéis mais novos estão assustados, mas nós estamos esperando um verão agitado”, diz.
Outro cinco-estrelas, o Grand Hyatt foi inaugurado em março deste ano em localização mais disputada: na Avenida Lúcio Costa, de frente para a Praia da Barra. O projeto com prédios baixos de 7 andares se integra bem com a natureza da Reserva da Barra, e conta com três restaurantes, centro fitness e piscina com bar. “Queremos crescer junto com o bairro”, diz Christophe Lorvo, gerente-geral do hotel e vice-presidente da rede na região. “Estamos notando moradores do Rio e de cidades muito próximas vindo se hospedar nos fins de semana – 70% do nosso público deve vir a lazer”.
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A busca entre eles é convencer o cliente de que a Barra também é Rio, e não um subdestino. “A vinda dessas marcas para cá colocam selo de qualidade na Barra”, diz Castagnini. Eles têm como aliados a grande melhora do transporte entre a região e a Zona Sul e o Centro. A ampliação do Elevado do Joá e a inauguração da estação do metrô Jardim Oceânico possibilitam deslocamentos em 30 minutos, antes impensáveis. O ônibus expressos BRT que vão e vêm do aeroporto do Galeão também contribuem.
Fora isso, esperam que as melhorias na infraestrutura do centro de eventos Riocentro, inaugurações como o Windsor Convention & Expo Center, para 7.000 pessoas, e eventos como o recente Villa Mix Festival e o futuro Rock in Rio, ambos no Parque Olímpico, incentivem a hospedagem na região. A oferta gastronômica também tem crescido – o novo espaço Vogue Square tem 15 restaurantes, bares, charutaria e delicatéssen.
“A competitividade deve fazer as diárias caírem em 2017 na Barra”, prevê Canteras. “E aí vai virar um destino atrativo se hospedar num hotelão por lá pagando o mesmo que em um mais simples na Zona Sul”.
A Zona Sul, por sua vez, também ganhou reforços no setor de luxo. A primeira filial do paulista Emiliano vai abrir na Avenida Atlântica, em Copacabana, dia 23 de dezembro com 90 acomodações (a maior delas com 120 metros quadrados), restaurante do chef Damien Montecer, spa e piscina na cobertura. “Copacabana tem muito mais apelo e também atrai quem vem trabalhar no Centro, que ainda concentra a maioria das empresas”, diz o diretor Gustavo Filgueiras. O hotel espera 60% de público corporativo (em São Paulo esse número chega a 90%).
Independentemente da localização, os novos empreendimentos têm uma aposta em comum: o Rio renovado e bem divulgado que emergiu das Olimpíadas. “Prevemos pelo menos 2 anos de impacto positivo”, diz Filgueiras. Revitalização de áreas antes abandonadas e novas atrações, principalmente na Zona Portuária – onde acabou de abrir o AquaRio, o maior aquário da América Latina –, devem rechear o calendário turístico. A Abih-RJ trabalha em feiras internacionais para investir na promoção da cidade, trazendo agentes de viagem estrangeiros para cá. “Estamos focando principalmente no mercado latino-americano para mostrar esse novo Rio, que ganhou investimentos de décadas em alguns anos”, diz Alfredo Lopes.
Se a economia voltar a crescer e a violência urbana der uma trégua em sua escalada, muito melhor.
PARAGUAY DIGITAL.
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