Mãe biológica quer guarda de menino torturado em rituais de magia negra

Mãe biológica quer guarda de menino torturado em rituais de magia negra
Mulher apresentou documento e diz que não teve autorização para visita.
Criança permanece em abrigo de Campo Grande e está na fila de adoção.
Enquanto o menino de 4 anos, que sofreu tortura em rituais de magia negra, permanece na fila de adoção, a mãe biológica procurou a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS), para manter contato com a criança e voltar a ter a guarda da criança.
Ao G1 a assessoria de imprensa do órgão disse que a catadora procurou recentemente a entidade, para buscar informações. Ela foi recebida pelo presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA), Venâncio Josiel dos Santos.
“Este é um caso bem complexo que estamos acompanhando desde o início. Neste período recebemos a visita parentes e uma vizinha. Todas afirmam residir em Jardim e tudo teve início porque a mãe biológica veio até o abrigo e não conseguiu autorização na Justiça para visitar o menino. Ela informou toda a sua história, inclusive sobre o paradeiro do companheiro, que também é catador de lixo e usuário de drogas”, disse o presidente.
De acordo com Santos, ela estava com certidão de nascimento do menino. “O documento aparentemente é verdadeiro, porém não temos perícia e ainda serão feitas análises. A mulher informou que tentou visitar o menino por três vezes, mas não conseguiu. Nós então protocolamos o documento e após isso encaminhamos ofício para a juíza que preside o processo”, comentou.
Após a visita, foi realizado um relatório, com a Comissão dos Advogados Criminalistas (CAC) e a Comissão dos Direitos Humanos (CDH).
O documento foi encaminhado para o município de Jardim, a 217 km de Campo Grande, onde tramita na Justiça o processo da vítima. São ao todo 17 itens no qual eles relatam todas as informações repassadas pela mulher.
Neste período, a conselheira Cassandra Szuberski, visitou e acompanha o menino. “Os trâmites para adoção já estão sendo realizados. A intenção é que ele seja reintegrado com a irmã de 14 anos, pois precisa manter este vínculo. Ele foi transferido e agora estamos dando um intervalo, para que ele não relembre a história”, comentou.
Objetos usados na tortura foram encontrados na casa dos tios presos (Foto: Divulgação/ Polícia Civil de MS)
Objetos usados na tortura foram achadso na casa
dos presos (Foto: Divulgação/ Polícia Civil de MS)
No abrigo, o menino fica com a irmã e mais 36 crianças. Em entrevista recente, a coordenadora da unidade, Ana Paula Queiroz, disse ao G1 que o garoto está se recuperando a cada dia e que já se sente em casa.
“É uma criança feliz, que come muito bem, brinca com outras crianças. Ele ganhou uns 20 bonecos de homem-aranha, ovo de páscoa, que chegaram de doações, e adora se vestir com roupas de super-herói. Esses dias foi fazer exame de sangue e saiu vestido com a fantasia”, contou a coordenadora.
Ainda conforme Queiroz, o menino já morou no mesmo abrigo antes, com os 4 irmãos durante cerca de 1 ano. Na época, ele foi abandonado até dois tios e uma avó ficarem com as crianças. “A minha alegria é saber que, em algum momento, ele guardou essa casa como um lugar acolhedor e hoje está se sentindo protegido porque aqui ele foi cuidado, foi amado”, ressaltou a coordenadora.
Em maio de 2015, só o mais novo foi morar com o tio-avô e a mulher dele, que foram presos pelas torturas em fevereiro de 2016, quando o caso de maus-tratos foi descoberto pela própria equipe do abrigo. A casa de acolhimento onde o garoto está, em Campo Grande, atende crianças e adolescentes há 22 anos. Interessados em colaborar podem entrar em contato pelo telefone (67) 3383-4313.
Prisões
Quatro pessoas foram presas durante visita surpresa da equipe do abrigo onde o menino vivia. Ele foi internado na Santa Casa no dia 23 de fevereiro deste ano, com queimaduras no rosto, fratura em um dos braços, ferimentos nos olhos e saco escrotal. No hospital, a tia-avó justificou os ferimentos dizendo que a criança havia caído.
O caso foi denunciado pelo hospital e chocou profissionais das polícias militar e civil, Conselho Tutelar e médicos. Os tios-avós confessaram a tortura em rituais de magia negra.
Eles tinham a guarda-provisória da criança e afirmaram que as agressões ocorriam também em outras ocasiões. Os nomes dos tios-avós não serão divulgados nesta reportagem para garantir os direitos de proteção da criança.
Família
O homem preso é irmão da avó paterna biológica do menino. Ele e a esposa teriam sido os familiares mais próximos interessados na guarda da criança, depois que a avó paterna devolveu a criança à Justiça alegando que não tinha condições de cuidá-la.
Segundo a polícia, os pais biológicos do menino são usuários de droga e o abandonaram. Em depoimento, a tia-avó contou que quis adotar a criança com intenção de utilizá-la em rituais de sacrifício.