JBS deve registrar perda bilionária com contratos de câmbio

JBS: empresa liquidou cerca de US$ 2,5 bilhões dos US$ 12 bilhões de sua posição de hedge para evitar prejuízos adicionais.
Gerson Freitas Jr., da Bloomberg
Maior produtora mundial de carnes, a JBS engordou seu caixa em mais de R$ 10 bilhões no ano passado com contratos que simulam uma aposta na desvalorização do real.
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Mas a inesperada recuperação da moeda brasileira no primeiro trimestre queimou quase metade desse ganho.
A empresa, que possui operações na América do Sul, Estados Unidos, Europa e Austrália, deve reportar uma perda financeira de aproximadamente R$ 5 bilhões com seus derivativos de câmbio depois de o real registrar o maior ganho entre 150 moedas do mundo todo no primeiro trimestre, afirma uma fonte familiarizada com o assunto.
Pega na contramão, a JBS liquidou cerca de US$ 2,5 bilhões dos US$ 12 bilhões de sua posição de hedge para evitar prejuízos adicionais, disse a pessoa.
A estratégia de hedging da JBS chamou a atenção de analistas e investidores no ano passado ao gerar lucros maiores do que o das operações de carne.
O presidente da empresa, Wesley Batista, afirmou em teleconferência, em 17 de março, que o programa era necessário para proteger a empresa contra eventuais desvalorizações cambiais, capazes de fazer explodir o tamanho de sua dívida externa quando medida em reais.
Analistas ponderam que essa estratégia é incomum para uma empresa com operações espalhadas pelo mundo e que obtém 80 por cento de suas receitas em dólares.
“Ganhar dinheiro com derivativos por meio da depreciação cambial parece ter sido uma ótima estratégia, olhando para trás”, afirma Viccenzo Paternostro, analista do Credit Suisse, em relatório de 4 de abril.
O analista calcula em R$ 5,1 bilhões a perda de caixa da JBS com hedge cambial no primeiro trimestre. “A JBS deve experimentar o lado negativo desse tipo de estratégia”.
A JBS preferiu não comentar. Na conferência de março com os investidores Batista disse que a estratégia reflete uma visão de longo prazo. “Toda a volatilidade e a incerteza que vimos nos dão ainda mais certeza de que precisamos estar protegidos”, disse ele.
Embora tenha adotado a política de proteger sua dívida em dólar há vários anos, a JBS aumentou em 50 por cento sua posição de hedge em 2015, com US$ 12,2 bilhões em contratos futuros e a termo de moedas em 31 de dezembro, segundo seus relatórios financeiros.
Há quase um ano, em uma entrevista à Bloomberg, Batista afirmou que esperava uma forte desvalorização do real.
Como comparação, a rival da JBS, a Marfrig Global Foods, que também possui uma grande dívida em dólar, afirma que utiliza as receitas das exportações como um hedge natural ao vez de utilizar derivativos cambiais.
Outras grandes exportadoras, incluindo a Vale, que exporta minério de ferro, e a Fibria, de celulose, também adotam a estratégia do hedge natural.
A posição agressiva da JBS tem sido bem sucedida, pelo menos até agora. Em 2015, a JBS registrou um ganho financeiro de R$ 10,6 bilhões com sua mesa de câmbio depois que o real caiu 33 por cento.
A JBS — como a maioria dos analistas de câmbio — foi pega de surpresa pela alta repentina do real no primeiro trimestre. Os traders começaram o ano prevendo uma queda de 10 por cento, segundo os contratos a termo. Em vez disso, o real subiu 10 por cento.
A valorização do real ajudou a pressionar as ações da JBS. Os papéis registraram uma perda de 20 por cento desde o início do ano, contra um ganho de 11 por cento do Ibovespa. exame
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