Acompanhe o desenrolar do processo de impeachment de Dilma

São Paulo – O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB) promoveu hoje a leitura do pedido de impeachment e da Decisão da Presidência da Casa sobre o processo de cassação da presidente Dilma Rousseff. Esta é a medida oficial que deflagra o procedimento de deposição da mandante de acordo com o regimento interno.
A crise política brasileira ganhou um novo capítulo ontem (2) após o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) anunciar que aceitaria o pedido de impeachment dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal. A decisão veio logo após a bancada do PT na Comissão de Ética optar pelo prosseguimento do processo de cassação de Cunha, acusado de mentir na CPI da Petrobras sobre a posse de contas no exterior.
Na sessão que deu início aos trâmites oficiais, o deputado Beto Mansur (PRB) leu em voz alta as 68 páginas de argumentos do pedido contra a presidente ao longo de mais de três horas. Cunha veio em seguida, com o documento com o seu parecer sobre o caso e justificando o início do processo.
Na próxima semana será montada uma comissão composta por 66 deputados titulares indicados pelos líderes partidários. Dentre estes, serão eleitos o presidente e o relator do caso. Assim que notificada, Dilma terá 10 dias para formular sua defesa.
Entenda todo o processo aqui.
Ao longo das 24 horas que sucederam o primeiro anúncio, políticos da base aliada e oposição repercutiram os trâmites na Câmara. Logo após a fala de Cunha, Dilma fez um pronunciamento sobre o assunto e disse estar indignada com a decisão do presidente da Câmara.
“Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público, não possuo conta no exterior”, disse em clara referência às suspeitas contra Eduardo Cunha.
Cunha devolveu, dizendo que lhe foi oferecido apoio no processo de cassação que o deputado enfrenta no Conselho de Ética em troca de articulação para aprovação da CPMF e, portanto, ela havia mentido em dizer que não houve barganha por parte do PT. O fato foi negado pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.
No fim do dia, o ex-presidente Lula chegou a classificar a ação de Cunha como “insanidade” e o ministro Edinho Silva disse que a base aliada está tranquila ao montar a defesa da presidente.
Mansur chora ao terminar leitura de pedido de impeachment
Beto Mansur (PRB-SP) termina agora a leitura do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Depois de mais de duas horas, Mansur chorou ao ler as últimas frases do texto, que citava o Hino Nacional Brasileiro. “Verás que um filho teu não foge à luta”, disse antes de ser aplaudido por alguns parlamentares.
Os próximos passos já começam na segunda-feira (7), com nomeações dos líderes dos partidos para a Comissão Especial.
O fim do dia
A leitura do pedido de impeachment e da Decisão da Presidência são as medidas oficiais que deflagram o procedimento de deposição da mandante de acordo com o regimento interno.
Dilma terá dez sessões para preparar defesa
A presidente Dilma Rousseff terá um prazo de dez sessões para dar suas explicações à comissão responsável pela análise do pedido de impeachment.
Os nomes dos parlamentares que irão compor a comissão serão divulgados na próxima segunda-feira.
Outros dois presidentes passaram pelo mesmo que Dilma
Antes de Dilma Rousseff, outros dois presidentes foram ameaçados por processos de impeachment – Fernando Collor de Melo, em 1992, e Getúlio Vargas, em 1954. O final dos dois enredos os brasileiros já conhecem. Collor renunciou ao cargo assim que o pedido chegou ao Senado e Vargas foi salvo na votação, mas pressionado por eventos posteriores, acabou se suicidando.
Nos dois casos, o cenário político estava conturbado. Vargas era acusado de querer implantar uma “república sindicalista” no país, Collor de ter vantagens pessoais num esquema de corrupção.
A relação com o Legislativo, assim como acontece com Dilma nos dias de hoje, também era frágil. Vargas, no entanto, obteve vantagem por ter o apoio de duas bancadas grandes (PTB e PSD).
“Os dois foram suficientes para rejeitar o impeachment, com 136 votos contra e apenas 35 a favor, além das abstenções”, explica Gianpaolo Dorigo, da Anglo Vestibulares. “Quanto a Collor, sua base de sustentação era menor, com a votação do processo resultando em 441 votos favoráveis ao afastamento, 38 contrários e 1 abstenção”.
EXAME