10 erros na integração lavoura-pecuária-floresta

Os sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) trazem benefícios agronômicos, ambientais, sociais e econômicos para os produtores. Entretanto, por serem mais complexos, exigem também maior atenção e mais cuidados.

Atualmente, mais de 11,5 milhões de hectares no Brasil já são cultivados com alguma configuração de ILPF. O aumento constante na adoção demonstra um domínio da tecnologia cada vez maior por parte dos produtores.

Entretanto, as experiências já existentes mostram alguns erros que podem ser evitados por quem está começando a trabalhar com a integração.

Confira abaixo alguns desses erros e veja como fazer para não cometê-los.

1 – Não estudar o mercado anteriormente

O ingresso na ILPF, assim como em qualquer atividade produtiva, deve ser feito pautado em estudo prévio de mercado. É preciso saber de antemão se há logística para a chegada de insumos e escoamento da produção, se há fornecimento local de mão-de-obra e de serviços que serão demandados e, principalmente, para quem irá comercializar a produção.

A falta desse estudo prévio pode resultar em dor de cabeça e prejuízos para o produtor.

“A escolha da espécie tem que ser feita de acordo com o mercado. Você vai ter para quem vender? E isso não vale só para árvores. Estou falando de tudo. Não é em qualquer lugar que você pode plantar soja, por exemplo. Tem que ter uma logística, armazenamento, comercialização”, explica o analista do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Miqueias Michetti.

Em alguns casos, a própria fazenda pode absorver parte da produção. É o caso dos grãos usados em um sistema de confinamento ou semi-confinamento, ou da madeira usada como lenha no secador de grãos ou como lascas para as cercas. Ainda assim, é preciso usar a quantidade certa para evitar excedente do produto sem saída comercial.

2 – Erro na implantação e manejo do consórcio de milho com capim

Uma estratégia muito utilizada na integração lavoura-pecuária é o consórcio de milho com capim, principalmente as braquiárias. Com essa técnica, o produtor ganha tempo, aproveita melhor o período chuvoso e mantém o solo sempre protegido.

Porém, a implantação e o manejo do consórcio são feitos de acordo com o objetivo do produtor. Se o capim for usado somente como palhada, usa-se menor quantidade de sementes da forrageira e prioriza-se o milho. Já se o objetivo é a formação de uma pastagem após a colheita do grão, aumenta-se a quantidade de sementes da forrageira.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Fernanda Ikeda, não fazer o correto planejamento da implantação do consórcio em função do objetivo final pode implicar em aumento de custos para o produtor e em queda no rendimento.

Se o número de sementes é elevado numa lavoura que prioriza a produção de milho, a competição com o capim pode levar à menor produtividade do grão.

O uso de espaçamentos maiores na lavoura de milho também pode favorecer o crescimento do capim, levando à necessidade de uma supressão desse crescimento com uso de herbicidas. Consequentemente, aumenta-se o custo de produção.

Outro erro que pode ser cometido é o uso de doses inadequadas de herbicida para controlar plantas daninhas na lavoura levar á morte do capim. Nesse caso, perde-se não só o investimento no consórcio como também o todo o resultado benéfico esperado.

3 – Não deixar palhada para a lavoura

Uma atitude comum dos produtores em um sistema de integração lavoura-pecuária é a de aumentar a lotação das pastagens no fim do período seco para baixar o capim antes de ser dessecado para o plantio da lavoura.

Entretanto, é preciso cuidado para que o excesso de pastejo não reduza o capim de modo a deixar palhada insuficiente para cobertura do solo na cultura agrícola.

O pesquisador da Embrapa Eduardo Matos explica que pesquisas mostraram que em alguns casos, o pastejo excessivo chegou a reduzir o estoque de matéria orgânica no solo, ou seja, teve o efeito inverso ao desejado na ILP.

De acordo com ele, para que haja acúmulo de matéria orgânica no solo e que a palhada exerça sua função protetora, o ideal é que o produtor retire os animais 30 a 40 dias antes da semeadura, permitindo a rebrota antes da dessecagem.

4 – Regulagem da plantadeira

Em um sistema de ILP, o ideal é que se tenha uma palhada uniforme e robusta para que se obtenha o melhor resultado de cobertura e acúmulo de matéria orgânica. Porém, é preciso ficar atento à regulagem de plantadeira.

Uma plantadeira desregulada pode depositar as sementes no meio da palha e não no solo, causando falhas no plantio e perdas para o produtor.

Dessa forma, é preciso ficar atendo à altura de profundidade do disco de corte, regulando a máquina corretamente para a quantidade de palhada na lavoura.

5 – Falta de adubação na pastagem

Em um sistema de integração lavoura-pecuária, a pastagem retorna ao sistema aproveitando o resíduo da adubação da lavoura que o precedeu. Entretanto é preciso que durante o período em que a pecuária ocupe a área, seja feita a adubação de manutenção. Essa prática ajudará a manter a fertilidade do solo, aumentará a produtividade da pecuária, garantirá maior acúmulo de matéria orgânica no solo e evitará a compactação.

Fazendo isso, ao retornar com a agricultura ao sistema produtivo, o solo estará em boas condições, não necessitando grandes intervenções antes da semeadura.

Uma possível economia com adubação da pastagem poderá sair resultar em maiores gastos no retorno da lavoura.

6 – Superlotação das pastagens

Da mesma forma que a falta de adubação de manutenção, a superlotação das pastagens é um erro em um sistema de integração lavoura-pecuária ou no sistema silvipastoril (IPF).

O pastejo excessivo pode provocar a redução da quantidade de plantas da forrageira. Com isso, o solo fica exposto, aumenta a incidência de plantas daninhas e começa um processo de degradação da pastagem. Como consequência, além de ter menor quantidade de palhada para a agricultura, a recuperação do solo pode implicar em maiores custos para o produtor.

Em um sistema de integração pecuária-floresta, a número excessivo de animais pode, além de causar a degradação da pastagem, provocar danos nas árvores. O estresse e a competitividade por alimentos podem levar o gado predar o tronco. Além de estragar a madeira, um possível anelamento do caule provoca a morte da árvore.

7 – Espaçamento da espécie florestal

A escolha errada do espaçamento entre os renques com espécies florestais em sistemas ILPF pode colocar todo o sistema em risco. Para isso, é preciso estudar antecipadamente o perfil de crescimento da árvore e o comportamento da copa, levar em consideração o objetivo com o sistema produtivo e então definir o melhor espaçamento.

Pesquisas e experiências de quem já vem usando o sistema mostram que espaçamentos menores do que 20 metros obstruem muito a entrada de luz no sistema, prejudicando o crescimento da lavoura ou da planta forrageira.

Algumas árvores com copas mais largas demandam espaçamento ainda maior, a partir de 30 metros. É o caso de nativas como o pau-de-balsa e o paricá.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Jorge Lulu, na comparação entre dois sistemas com eucalipto, um com espaçamento de 50 metros e outro de 15 metros, observou-se uma redução de até 37% na incidência de raios solares.

Longas distâncias, entretanto, apesar de ainda garantirem a sombra para o gado, reduzem o efeito da interação entre os componentes, como a ciclagem de nutrientes, por exemplo.

Outro fator relevante é o número de linhas em cada renque. Dependendo do objetivo de uso da madeira, renques com mais de uma linha podem não ser boa ideia.

Para uso em serraria, a linha simples tem se mostrado como a melhor alternativa, pois garante o crescimento ereto das árvores. Em linhas duplas e nas linhas externas de renques com linhas triplas, as plantas crescem tortas em busca de luz solar, reduzindo o valor da madeira.

 

8 – Deriva de herbicidas nas árvores

Ao se cultivar lavoura entre renques de árvores, é preciso cuidado especial com a pulverização de herbicidas. Qualquer descuido pode provocar a deriva nas espécies florestais causando danos ao seu crescimento, brotação excessiva, bifurcação de tronco ou até mesmo levando à morte de plantas jovens.

O engenheiro florestal da Embrapa Diego Antonio alerta que para evitar que esses problemas ocorram, a pulverização deve ser feita em dias sem vento e com temperaturas mais amenas, em baixa velocidade e utilizando bicos anti-deriva nas pontas da barra de pulverização.

Outra medida eficiente é deixar uma faixa de 1m a 1,5 m entre a lavoura e a linha de árvores,

9 – Descuido no manejo da espécie florestal

A economia evitando operações de manejo nas espécies florestais, como poda, desrama, combate à formigas e capina podem sair caro para o produtor no momento de comercializar o produto. O manejo inadequado durante a fase de crescimento da planta tem impacto direto no crescimento e na formação do fuste da árvore.

Uma árvore com tronco bifurcado, cheia de nós e com outros danos perde valor comercial. Na maioria dos casos essa perda chega a ser muito maior do que as despesas evitadas nos anos anteriores.

“Se você gastar mais no começo, a garantia de ter um bom resultado final é muito maior. Deixar de gastar com certos manejos no processo faz com que seu produto valha muito menos no final”, afirma a consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi.

10 – Não existe um modelo ideal

Cada sistema de integração é particular. Não existe um modelo que vá se ajustar a todas as propriedades, mesmo que tenham perfil semelhante.

Para adotar qualquer configuração de sistema ILPF é preciso um estudo prévio, avaliar a aptidão do produtor, maquinário disponível, características da propriedade, disponibilidade de mão-de-obra, mercado local, logística, disponibilidade de crédito, entre outros fatores.

Dessa forma, a estratégia adotada em uma fazenda pode não ser a melhor para a propriedade vizinha.

O melhor a se fazer é contar com auxílio de um consultor técnico para se fazer um bom planejamento e evitar surpresas no futuro. 

Fonte: Embrapa