Prostíbulos disfarçados têm até ‘open churrasco’ do sexo em Campo Grande

Repórter conseguiu ‘emprego’ mesmo se passando por garota de 17 anos.

Grupos nas redes sociais, anúncios na internet e ‘catálogos’ pelo WhatsApp mudaram os caminhos da prostituição em Campo Grande, mas os velhos prostíbulos se mantêm na cidade com nova roupagem. Números grandes nas fachadas, quase sempre discretas, revelam as casas onde garotas de programa atendem clientes atraídos pelo marketing digital.

Há casas mantidas por grupos de garotas que se juntam para bancar o aluguel, mobília e anúncios. Mas, também há estabelecimentos que cometem o crime de rufianismo e lucram com mulheres contratadas para fazer sexo em troca de dinheiro.

Uma repórter do Jornal Midiamax se passou por garota de programa em busca de emprego em uma dessas casas e, mesmo afirmando que teria apenas 17 anos, soube que poderia se prostituir. “É só não dizer nada. Vamos trabalhar”, convidou o agenciador, que ofereceu R$ 150 por programas de meia hora, e R$ 200 por uma hora de sexo com os clientes da casa, que recebe R$ 50 a cada sessão de sexo da ‘funcionária’.

A casa, em um sobrado discreto em uma rua da Vila Alba, uma região residencial e de pouco movimento, também paga para as ‘meninas’ uma comissão sobre as bebidas que conseguem vender aos clientes. O esquema é velho e praticado desde as antigas ‘zonas’.

‘Open Churrasco’ do sexo
Mercado milenar, técnicas modernas. A casa cujo agenciador aceitou uma repórter como garota de programa usa o Facebook para divulgar as atrações. E um dos posts, oferece um ‘open churrasco’ com “belas meninas e piscina liberada”.

A intenção do evento, apesar de não constar no anúncio, não é guardada como grande segredo. “E uma casa de massagem, mas na realidade é programa”, explica o agenciador sem muito rodeio já no primeiro contato com a repórter.

A reportagem identificou pelo menos 15 endereços que, além do movimento intenso, com entra e sai, e muitos carros parando durante todo o dia, não chamam a atenção da vizinhança. “Eu meio que desconfiava, porque para muito carrão aí o dia todo, descem uns caras, ficam um pouco e já saem. E a gente só vê umas meninas ‘ajeitadinhas’… Mas, pra mim não tem problema. Não fazem barulho e são discretos”, diz um morador do Jardim Paulista, vizinho de uma casa que atende com 5 garotas.

O perfil dos ‘investidores’, segundo as garotas de programa, é parecido. “Ou são antigas garotas, que reúnem meninas e organizam, ou são uns caras mais jovens, de famílias boas e influentes. É ruim, porque a gente paga uma taxa, mas eles têm um lado bom. Eles garantem pra gente tranquilidade com polícia, essas coisas”, conta uma garota de programa que já atendeu em uma casa ‘mantida’ por dois jovens ‘promouters’. “Eles organizam uns eventos, e uma coisa chama a outra”, analisa.

Internet contra a cafetinagem
Atualmente, ela conta que ‘escapou’ dos agenciadores graças à internet. Faz tempo que a internet foi mudança como o programa chega até as meninas. Antes a gente ficava o dia inteiro no Bate Papo da Uol, e até hoje ainda tem uns clientes perdidos por lá. Mas agora a gente faz anúncio nos sites da moda. Atualmente é o Viva Local onde tem mais garotas anunciadas”, relata.

A profissional do sexo se refere a um dos muitos site de anúncios gratuitos que viram ‘catálogos’ de prostitutas com direito a fotos, lista detalhada das práticas que cada uma delas oferece, preço, geralmente entre R$ 100 e R$ 300 reais, e telefone de contato, além do endereço.

“Alguns espertinhos inventam uns sites de anúncio e querem cobrar das meninas, mas ninguém mais cai nessa. Os anúncios grátis funcionam muito mais. E no Correio a gente só arruma cliente velho, chato e quebrado”, diz se referindo a um jornal diário e a websites que vendem espaço para anúncios das garotas como ‘massagistas’ ou ‘acompanhantes’.
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Tem crime aí
Apesar de a prostituição ter sido descriminalizada no Brasil, continua como uma atividade marginalizada e quase sempre vira notícia envolvida com crimes violentos. Recentemente, Campo Grande viu políticos e empresários serem presos por saírem com adolescentes. O escândalo revelou uma rede de prostituição e só veio à tona porque um vereador foi vítima de extorsão.

“Desde que o mundo é mundo, as garotas de programa atendem todo tipo de gente. Mas os mais poderosos são os que têm mais dinheiro e tempo pra gastar, então acabam sendo clientes importantes e comuns”, conta uma garota de programa que, aos 42 anos de idade, deixou de atender e passou a ‘cuidar’ uma casa com seis garotas ‘fixas’.

“Na minha época, eu cheguei a atender tanto cliente político, que apelidaram meu quarto de ‘gabinete’. Todos eles atendiam celular e falavam que estavam despachando no gabinete”, se diverte. Essa proximidade clandestina com o poder, no entanto, oferece riscos. “Se a gente falar demais, corre o risco de desaparecer ou acabar na cadeia”, diz ela se referindo a uma colega que diz estar presa por ‘saber demais’.

Se prostituir não é crime no Brasil. Mas, com poderosos ou gente comum, usar a prostituição de alguém para ganhar dinheiro é.

Segundo o delegado Paulo Sérgio Lauretto, titular da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), o crime de rufianismo, ou cafetinagem, pode render penas de um a 4 anos de detenção.

Sobre o fato de o agenciador dizer que aceitaria menores de idade na casa de massagem, o delegado diz que o ‘empresário’, em flagrante, poderia ser enquadrado no artigo 230 do código penal, e a pena sobre para entre 3 e 6 anos de cadeia.

ÁUDIO: confira o ‘empresário’ recrutando a falsa garota de programa, mesmo com 17 anos:

Repórter: Oi, estou ligando por causa do post sobre a casa. Vocês estão precisando de meninas para trabalhar:

Agenciador: Oi, é uma casa de massagem, na realidade é programa. Você já trabalhou antes em boate ou casa de massagem? O programa é R$ 150 meia hora, e R$ 200 uma hora e você ganha também com a venda de bebidas. Só que R$ 50 é da casa pelo uso do quarto.

No segundo dia de conversa com o agenciador, ao todo foram 11 minutos de conversa e mensagens trocadas pelo wharsApp, foi revelado que a candidata ao cargo da casa de prostituição seria uma adolescente, de 17 anos. E mesmo sabendo que a menina era menor de idade, o ‘empresário’, que cuida da parte de marketing do local aceitou sua entrada para a ‘empresa’.

Repórter: Mas, você me aceita mesmo com 17 anos? Faço aniversário daqui a dois meses, e nem pareço que tenho 17 anos.

Agenciador: é só não falar nada, vamos trabalhar.

Repórter: Então, você me aceita?

Agenciador: sim, aceito. Mas, é um segredo.
midiamax

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