Juiz responsável pela operação Carne Fraca diz que não há comprovação de carnes impróprias para consumo

Juiz responsável pela operação Carne Fraca diz que não há comprovação de carnes impróprias para consumo
Segundo Marcos Josegrei, foco da investigação federal sempre foi a corrupção; ele ressalta que, até este momento, não é possível dizer que os produtos brasileiros possam fazer mal à saúde.
O juiz federal Marcos Josegrei, responsável pela operação Carne Fraca, afirmou nesta sexta-feira (24) que as investigações não tiveram como foco a qualidade dos produtos vendidos no Brasil, mas sim a apuração de crimes como corrupção, associação criminosa e extorsão, supostamente cometidos por agentes públicos e funcionários de empresárias do ramo.
“A investigação teve como finalidade a apuração de corrupção de um determinado grupo de fiscais inicialmente no estado do Paraná, que alegadamente não cumpririam com seu dever como manda a lei. Em determinada circunstância, portanto, cometiam crimes contra a administração publica, tais como a corrupção”, disse.
O magistrado ressaltou que, até este momento, não se pode afirmar que os produtos comercializados pelas empresas investigadas possam fazer mal à saúde.
“Não se pode afirmar que nenhuma dessas empresas está colocando no mercado produtos impróprios para o consumo. Essa afirmação seria uma generalização temerária neste momento. O que se pode afirmar é que há indícios suficientes de que representantes de diversas empresas estavam com uma relação muito próxima com fiscais agropecuários e isso causava problemas de corrupção”, disse o juiz.
Josegrei defendeu a qualidade da carne brasileira e disse que o problema, a princípio, é burocrático. “As empresas muitas vezes se associavam com os fiscais para romper barreiras burocráticas. Isso fazia com que procedimentos fossem agilizados, processos andassem mais rápidos do que deveriam, tinham acesso indevido a sistemas internos do Mapa [Ministério da Agricultura]. Não se pode dizer que as carnes ou os produtos exportados e consumidos no mercado interno por essas empresas não têm qualidade”.
Segundo o juiz, os laudos apresentados pelo fiscal Daniel Gouvêa Teixeira, que deram origem à operação, não mencionam carnes estragadas.
“A PF [Polícia Federal] obteve dois laudos: um no que diz respeito aos produtos de um dos frigoríficos [Souza Ramos, em Colombo, no Paraná] e o outro do outro frigorífico [Peccin, em Curitiba]. Com esses laudos, a PF identificou que havia alguma impropriedade nos produtos que eram vendidos. Veja: eu não estou dizendo que esses produtos faziam mal à saúde, que causavam doenças. Eu estou dizendo que, de acordo com esses laudos, eles não tinham a propriedades que o rótulo dizia que e deveriam ter”, explicou. Ambos frigoríficos negam problemas em seus produtos.
Josegrei reforçou que a prática de corrupção entre os fiscais é minoria entre os profissionais brasileiros. “É importante registrar que a maior parte dos fiscais é composta de gente correta, honesta, e que faz o seu trabalho diariamente”.

Carne Fraca

Considerada a maior operação da Polícia Federal, quando se fala em números, a Carne Fraca soma 309 mandados, sendo 37 de prisão. Do total, 36 suspeitos foram presos e apenas um continua foragido. Veja quem são todos os alvos.
A PF aponta um esquema de fraude na produção e comercialização de carne. Além de corrupção envolvendo fiscais do Ministério da Agricultura e produtores, a investigação encontrou indícios de adulteração de produtos e venda de carne vencida e estragada. Das 21 fábricas investigadas, 18 ficam no Paraná.
Há ainda a suspeita de que partidos políticos tenham sido beneficiados com o pagamento de propina.
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