Desmatam (e matam) o Pantanal para plantar soja

Árvores transformadas em gravetos entre Miranda e Corumbá
Preferia publicar neste blog a imagem de uma onça parda que cruzou meu caminho – ou eu é quem cruzei o dela? – na BR-262, a caminho de Corumbá. Ou de um servo pantaneiro, de uma capivara, de um quati que também vi com vida à beira da rodovia. Mas o que tenho para mostrar a vocês é a imagem da indignação, do espanto, da ameaça, do perigo, da degradação do meio ambiente.
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É a imagem do desmatamento do Pantanal, não muito longe de Corumbá, no limite com a região de Miranda, à beira da BR-262. Imagens de um Pantanal ferido pela roda de tratores e pelas lâminas das motosserras que trituram as árvores sem piedade. Preparam o terreno para a plantação de soja. E soja transgênica, conforme me garantiu a bióloga Débora Calheiros, da Embrapa de Cuiabá.
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Devastaram a Mata Atlântica de São Paulo e agora se voltam para o Pantanal. Liberada inescrupulosamente pelos órgãos federais de fiscalização, a soja transgênica traz malefícios para o organismo do ser humano – câncer, por exemplo – e provoca o desequilíbrio do meio ambiente. Isso sem contar que está sendo plantada na maior planície alagável do mundo, reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera, uma área que legalmente seria intocável.
As fazendas de gado instaladas há dois séculos no Pantanal fazem parte do seu cenário e equilíbrio ambiental, conforme asseguram pesquisadores da Embrapa, mas liberar essa imensa riqueza natural para o avanço da soja chega a ser um ato desumano, insensato, que fere qualquer tipo de acordo feito em defesa da sustentabilidade do Pantanal. Ato de descompromisso e negligência com qualquer pacto que se tenha feito em nome da preservação do bioma pantaneiro.
Se o desmatamento não for detido agora, o que veremos em breve é um Pantanal totalmente coberto por plantações, com o fim da vegetação nativa e de todos os animais que nela habitam. E que não venham mais falar em preservação da onça-pintada enquanto o governo federal continuar liberando áreas pantaneiras para plantio de soja transgênica.
A triste verdade, caros amigos, é que o projeto para transformar a BR-262 em uma “rodovia ecológica”, com velocidade máxima de 100 km por hora e cercas de proteção para os animais, foi sorrateiramente engavetado. Falta comprometimento com a preservação do meio ambiente. E as futuras gerações, nossos filhos e netos, estão condenados a ver apenas réplicas de animais empalhados em museus e algumas reservas de vegetação natural para saber o que havia no passado.
Esse é um desastre anunciado tão grave quanto o de Mariana. Só que ele ocorre devagarinho, paulatinamente, na calada da noite, sem que possamos perceber. A onça parda que cruzou o meu caminho – ou fui eu quem cruzou o dela? – na BR-262 sobreviveu – eu corria a menos de 100 km por hora, brequei a tempo de contemplar por segundos o seu passeio pela noite até que desaparecesse na mata. Mas vi muitos corpos estendidos de animais mortos ao longo do percurso entre Campo Grande e Corumbá.
E também vi longas feridas provocadas pelo desmatamento do Pantanal. Quantos animais ainda precisarão morrer, quantas árvores precisarão ser derrubadas para que o Pantanal mereça ser olhado com o respeito pelo que representa para a humanidade? Lembro-me que mentes insanas tentaram liberar a instalação de usinas sucroalcooleiras e plantação de cana no Pantanal. Manifestações e até o ato extremo de um ambientalista, que se matou ateando fogo no corpo em Campo Grande, forçaram o veto ao projeto e impediram a degradação. Agora, o Ministério Público Federal deve agir rápido para evitar o avanço desse crime ambiental de lesa patrimônio. É um caso sério de Justiça.
Esta e outros artigos você pode conferir na íntegra no blog Nave Pantanal
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